O Dia

Precursor da bossa nova

Autor de ‘Chove Lá Fora’ estava internado há 12 dias

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Tito Madi, morto na manhã de ontem aos 89 anos, é o autor de sucessos como ‘Chove Lá Fora’, ‘Cansei de Ilusões’ e ‘Balanço Zona Sul’ (esta, imortaliza­da por Wilson Simonal). E foi — ao lado de nomes como Johnny Alf e o próprio João Gilberto — uma das pontes entre a era do samba-canção e a da bossa nova. O cantor e compositor sai de cena após 12 dias de internação no Hospital São Lucas, em Copacabana, em decorrênci­a de uma pneumonia e de problemas renais. O velório e o enterro serão hoje no Cemitério São João Batista.

Chaukki Maddi, seu nome verdadeiro, nasceu em Pirajuí (SP) em 18 de julho de 1929. Iniciou-se em 1952, como cantor contratado da Rádio Tupi de São Paulo, e passou a gravar discos dois anos depois, estreando com ‘Eu e Você’, ao lado de Clelia Simone. Gravou álbuns com regularida­de até meados dos anos 1970. Ele teve um AVC em 2008, e desde então se deslocava em cadeira de rodas. Em fevereiro de 2015, lançou seu último CD, ‘Quero Dizer Que Te Amo’, ao lado do pianista Gilson Peranzzett­a, e fez uma curta aparição no show de lançamento, na Sala Baden Powell (Copacabana), ao lado de Leny Andrade, Áurea Martins, Márcio Gomes, Valéria Lobão, Ana Maria Antoun e João Senise. Era sua primeira apresentaç­ão em dez anos.

O DIA conversou com ele na época, poucos dias antes do show. Tito, após cinco décadas vivendo em Copacabana, acabara de se mudar para o Humaitá e dizia sentir saudade das apresentaç­ões na TV e nos palcos. “Por causa do AVC, fiquei com a mão esquerda, que é a da harmoni- zação, parada. Tenho muitas músicas inéditas, gravadas em fita”, lembrou, afirmando que poderia ter lançado Milton Nascimento. “Quando ele veio ao Rio pela primeira vez, nos anos 1960, pedi a ele umas músicas para eu gravar, mas ele não mandou, não. Ele ainda era inédito”.

Gilson Peranzzett­a irá ho- menagear Tito no sábado, ao se apresentar com Leny Andrade no Rival, no lançamento do CD ‘Canções de Cartola e Nelson Cavaquinho’. Leny vai cantar ‘Chove Lá Fora’ e os convidados João Senise e Zé Luiz cantam, respectiva­mente, ‘Balanço Zona Sul’ e ‘Cansei de Ilusões’. “Foi uma figura muito importante na minha vida. Uma pessoa do bem, vai deixar uma marca e não podemos deixar de falar dele”, diz Gilson.

A cantora Nana Caymmi está terminando um álbum dedicado à obra de Madi, anunciado no começo do ano. Madi chegou a ouvir uma cópia levada pelo produtor José Milton, pouco antes de se internar. “Ele ficou muito realizado”, relatou Carmem Maddi Bulcão, filha de Tito. “Meu pai foi o melhor que alguém pode ter. Mesmo com a carreira, muitas viagens, fazia questão de acompanhar tudo da vida dos filhos e dos netos. Gostava de falar dos momentos de auge, mas também não dormia sem saber se todos já estavam em casa”.

O AVC deixou minha mão esquerda, a da harmonizaç­ão, parada. Tenho muitas músicas inéditas, gravadas em fita” TITOMADI, Cantor e compositor

“Meu pai foi o melhor que alguémpode­ter.Mesmocoma carreira, acompanhav­a tudo da vida dos filhos e dos netos” CARMEM MADDI, Filha de Tito

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ESTADÃO CONTEÚDO Tito Madi em 1974: cantor deixou músicas inéditas gravadas em fita

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