O Dia

A eleição sem primeiro turno

- Roberto Muylaert Jornalista e editor

Oque se discute hoje é se haverá uma eleição sem segundo turno, ou não. Na verdade, estamos caminhando para uma eleição sem primeiro turno. Isto porque, à medida que os dois candidatos líderes nas pesquisas se destacam dos demais, o raciocínio dos eleitores passa a considerar a inutilidad­e dos votos que não sejam para os dois primeiros. Quando fica na cabeça do eleitor o fato de que é desperdíci­o escolher alguém do bloco intermediá­rio, ficamos sem primeiro turno, o que não deixa de ser uma novidade.

Passamos então a escolher entre o horror conhecido, que é o PT, e o horror das nossas memórias, representa­do pelo pensamento militar, que tende a transforma­r tudo em comunistas e anticomuni­stas, ignorando a queda do muro de Berlim, em 1989, e as torturas de brasileiro­s contra brasileiro­s nos quarteis do Exército, crime inafiançáv­el que continuará insepulto, até que a memória da nossa história seja posta à luz, para expurgá-lo das trevas do passado, como um furúnculo maduro expelido de nosso corpo.

Por falar nisso, se nossa Constitui- ção tivesse sido promulgada um ano depois, na queda do muro de Berlim, não teria tantos artigos a defender a democracia plena, contra as arbitrarie­dades que perpassam o pensamento radical de direita ou de esquerda, que agora parecem ser de novo necessária­s, face aos pronunciam­entos dos generais de Bolsonaro.

Na eleição de hoje, temos de volta o maniqueísm­o clássico anterior à queda do muro, tendo de um lado a chamada “organizaçã­o criminosa”, alcunha que o PT ganhou para si em boa hora, quando todos os caminhos parecem condenar as ações do partido e de seus membros. Já estava na hora, os quadros dos últimos governos estão todos na cadeia, e agora começam as delações premiadas para valer.

A impressão que dá é que o PT se acostumou a ludibriar o povo, valendo-se de seu pouco conhecimen­to das coisas, para tirar vantagens. Como aconteceu em casos mais recentes, como na eleição da Dilma (cujos marqueteir­os também estão presos), quando um truque de edição de TV mostrava o feijão sumindo da mesa do pobre, se ela não fosse eleita. Ou quando Lula segurou enquanto pôde a onda de que sairia candidato a presidente, deixando Haddad a ver navios quando chegou a hora de assumir a sua candidatur­a.

Não foi à-toa que quando o partido precisou lançar o nome Haddad na disputa, ele virou Andrade lá no Nordeste. Por fim resolveram a questão com o “Vote 13, vote Lula”, naquela região, na certeza de que ninguém irá conferir a fotografia do candidato na urna eletrônica.

O PT abusou também ao inventar um “socialismo entre países”, coisa que nem Lenin tinha pensado. Funciona assim, basta entregar muitos recursos do BNDES a juros subsidiado­s, em dólares, para países sem condição de pagar sequer a primeira prestação, como aconteceu com Venezuela, Bolivia, Angola, Cuba, Moçambique, Nicarágua, Guiné Equatorial, que se beneficiar­am a fundo perdido de recursos de infraestru­tura que seguem faltando por aqui. O total desse “socialismo bonzinho” foi da ordem de R$ 50,5 bilhões, segundo o Tribunal de Contas da União.

Parece que a onda ou tsunami Bolsonaro pode liquidar a eleição no primeiro turno.

Caso isso aconteça, passamos ao salto no escuro do desconheci­do, ao eleger uma pessoa desprepara­da, sem equipe, aninhado nas Forças Armadas e que acha um grande brasileiro o torturador Brilhante Ulstra.

Deus tenha piedade de nós, pobres eleitores de um país maravilhos­o, mas que não merecia tanto.

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