O Dia

Brechó não é moda, é saída econômica

Cresce a prática de comprar itens de segunda mão. Móveis e livros estão entre os mais procurados

- Reportagem da estagiária Edda Ribeiro, sob supervisão de Max Leone.

Em tempos de crise, driblar os preços altos é mais que rotina para o consumidor, e o comércio de usados tem sido boa alternativ­a para quem precisa trocar de geladeira, por exemplo, ou mesmo colocar a leitura em dia. Uma pesquisa da Confederaç­ão Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito Brasil (SPC) mostrou que 92% dos entrevista­dos acreditam na vantagem da compra e venda de itens de segunda mão, entre eletrodomé­sticos, livros e roupas.

O ranking do levantamen­to tem em primeiro lugar os livros, com 54% de adesão na compra. Outros produtos que os entrevista­dos também costumam adquirir são eletrônico­s (38%), móveis (38%) e eletrodomé­sticos (36%). Na venda de produtos, 33% das pessoas vendem roupas para comprar outras peças.

“Os livros de ciências humanas, sociais e poesia estão no topo das vendas”. É o que conta Ricardo Duarte, vendedor do Berinjela, sebo localizado no Centro do Rio. “O valor das publicaçõe­s é decidido após análise do estado do livro, e consulta aos preços dos mesmos títulos na Estante Virtual” explica. A ‘Estante’ é um site de vendas de livros usados online que, desde 2005, reúne vários sebos.

O Berinjela faz promoção no primeiro sábado de todo mês com todos os títulos além de CDs e DVDs sendo vendidos com 30% de desconto.

No Bairro de Fátima, a empresária Daniela Pandolfi, 44, mantém uma loja de usados há dez anos. Tem móveis, eletrodomé­sticos, livros e vinis, tudo com pronta entrega. Segundo Daniela, que divulga o comércio nas redes sociais, muitos clientes buscam itens para montar a casa nova.

“O que mais sai são os itens de primeira necessidad­e, como fogão, geladeira e colchão. Mas para montar uma casa completa, a pessoa não gasta mais do que R$ 2 mil em tudo”, explica.

CASA NOVA

Nesse comércio que mais parece um troca-troca, a assistente administra­tiva Juliana Afonso, 28 anos, foi aos poucos montando sua casa e comprou roupas novas para a filha de um ano, após vender as de recém-nascida.

“Comecei por um grupo de mães no Facebook, e fui conhecendo outras mães que também vendiam e compravam. O mesmo foi nos móveis, quando eu e o meu marido fomos morar juntos. Compramos rack, mesa, armários e um guarda roupa. Assim nós conseguimo­s mobiliar a nossa casa sem gastos exorbitant­es”, comenta Juliana.

E a prática se tornou um costume. “Compro mais quando temos necessidad­e de algo, às vezes também vendemos quando precisamos levantar algum dinheiro. Nada fica encalhado, uma hora ou outra sempre acaba vendendo. A economia é enorme”, relata a assistente.

FUGA DA CRISE

Marco Quintarell­i, especialis­ta em varejo, acredita que o drible na crise financeira também é num movimento de sustentabi­lidade.

“O consumidor está sendo obrigado a ser mais consciente. Mas a reutilizaç­ão já vem sendo uma prática mais constante”, explica.

Ele defende que esse tipo de comércio também cria novos consumidor­es. “Um grupo de pessoas que não poderiam comprar roupas de luxo, por exemplo, já pode arcar com isso pagando menos. E os direitos do consumidor são os mesmos que nos produtos novos. Na compra, ele mesmo avalia o estado”, ressalta Quintarell­i.

Para montar uma casa completa, a pessoa não gasta mais que R$ 2 mil em tudo compra”

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ESTEFAN RADOVICZ / AGÊNCIA O DIA DANIELA PANDOLFI, empresária

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