Quem vota diferente de você não é seu inimigo
Candidatos reagem à multiplicação de ataques com motivação política
Dispensamos voto e aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim
BOLSONARO, candidato do PSL
Essa escalada de violência tem que ter fim. Há denúncias de atos violentos em todo o país. Isso precisa parar HADDAD, candidato do PT
A sequência de casos de agressão por motivação partidária levou os dois presidenciáveis que disputam o segundo turno a se pronunciar. Ambos fizeram críticas aos agressores e pediram que a violência seja interrompida. Em meio à campanha tão polarizada, é preciso lembrar que uma das marcas mais bonitas da democracia é a convivência entre os opostos.
Ocandidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, reiterou ontem os apelos contra a violência motivada por divergências políticas. Na quarta-feira, o presidenciável já havia mudado o discurso após a repetição de casos de ataques feitos por pessoas que se identificam como seus eleitores, inclusive o que provocou a morte do capoeirista Romualdo Rosário da Costa, de 63 anos, em Salvador.
No Twitter, o candidato repudiou, na quarta-feira à noite, os ataques contra seus opositores .” Dispensamos voto e qualquer aproximação de quem pratica violência contra eleitores que não votam em mim. A este tipo de gente peço que vote nulo ou na oposição por coerência, e que as autoridades tomem as medidas cabíveis”, disse.
No dia anterior, Bolsonaro havia dito que “não tem como controlar seus eleitores”. “Um cara com uma camisa minha comete lá um excesso, o que eu tenho com isso? Peço ao pessoal que não pratique isso, mas não tenho controle”, declarou.
Em resposta, Fernando
Haddad (PT) afirmou que o candidato do PSL não está controlando seus apoiadores mais radicais “Meu adversário diz que não pode controlar os cachorros loucos que soltou pelo país. Isso não se faz”, comentou Haddad, sobre o assassinato do mestre de capoeira, após declarar voto no PT.
Ontem, Bolsonaro adotou discurso moderado: “Nós acreditamos em todos no Brasil. Vamos unir o Brasil. Brancos e negros, homos e héteros, pais e filhos, nordestinos e sulistas, homens e
mulheres, vamos unir o nosso Brasil e pacificá-lo”.
Por sua vez, Fernando Haddad também se pronunciou por meio das redes sociais. Pelo Twitter, Haddad se demonstrou “preocupado”. “Essa escalada de violência tem que ter fim. Estamos recebendo denúncia de atos violentos em todo o país (...) Isso precisa parar”, escreveu.
AgRESSãO E ASSASSINATO
Nesta semana, dois casos envolvendo eleitores ganharam repercussão na mídia. Na noite de segunda-feira, uma jovem de 19 anos foi agredida por três homens enquanto voltava para casa. A vítima, que usava uma camisa com os dizeres “Ele Não”, teve uma suástica desenhada na barriga com um canivete.
Em Recife, uma jornalista foi agredida e ameaçada de estupro, logo após votar, por dois homens. Segundo o Boletim de Ocorrência registrado na delegacia do Espinheiro, um deles usava uma camisa em favor do candidato do PSL. De acordo com a mulher, que teve o rosto e os braços cortados, o agressor teria dito: “quando o comandante ganhar, essa imprensa toda vai morrer”.
POSTURAS AgRESSIVAS
Para Michael Mohallem, professor de Direitos Humanos e coordenador do Centro de Justiça e Sociedade (CJUS) da FGV, o discurso do candidato do PSL legitima e incentiva certas posturas agressivas”, o que explicaria em parte a onda de violência cometida por apoiadores. “Bolsonaro mobiliza uma rede de ressentimento acumulada nos últimos anos diante das conquistas de novos sujeitos políticos, como pessoas negras, mulheres, população LGBTI e indígenas, supostamente ‘privilegiadas’ em detrimento da maioria”.