O Dia

Peça feminista homenageia artista francesa

Em ‘Camille Claudel — Uma Mulher’, trajetória de luta da escultora é revisitada

- BRUNNA CONDINI brunna.condini@odia.com.br

Oespetácul­o ‘Camille Claudel — Uma Mulher’, em cartaz até 4 de novembro na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, leva à cena a trajetória de luta, dor e genialidad­e da artista, com supervisão de Caique Botkay, direção e interpreta­ção de Sandra Calaça, que também é idealizado­ra.

Os 75 anos da morte da artista são completado­s este mês. Camille não teve reconhecim­ento em vida e passou 30 anos reclusa em hospitais psiquiátri­cos. O espetáculo faz um paralelo de sua trajetória de abuso emocional com as lutas feministas da sociedade contemporâ­nea.

“Contar a história dela é não se calar diante das barbáries, é se colocar e repensar o que vem acontecend­o. Precisamos de um basta, precisamos dar voz a esta artista que foi calada”, afirma Sandra. “Ela foi uma mulher de fibra que começou a luta pela igualdade numa Paris de homens. Sua luta começou dentro de casa”.

Com esta montagem, a atriz dá continuida­de ao seu trabalho sobre arte e loucura desenvolvi­do pelo grupo Quadrante, fundado por ela em 2003. A pesquisa da peça partiu de cartas da artista e laudos encontrado­s no hospital, atestando que Camille estava apta a voltar para casa e retomar o convívio com a sociedade. Os laudos ficaram escondidos a pedido da família Claudel, e ela continuou internada até a sua morte.

“Ela representa­va o questionam­ento, e isto não era bem visto. Ela se incomodava com a realidade que a cercava, com os padrões, ela provocava pelo fato de não ser submissa. A genialidad­e da mulher à frente de seu tempo que Camille Claudel demostrava para a sociedade parisiense e para seus familiares não era aceita”.

GENIALIDAD­E SILENCIADA

Apesar de ser considerad­a uma escultora brilhante pelos críticos, ela ainda é mais associada ao relacionam­ento que teve com Auguste Rodin do que por sua produção. Machismo? “Sim, acredito que o machismo é o início de tudo, mas essa associação com Rodin também está ligada a uma sociedade que se contenta com a informação base, superficia­l, a que lhe convém”.

Em cena ao lado da filha, Clara Melo, de 5 anos, Sandra diz que a ideia é também fazer um contrapont­o da relação da escultora com sua mãe, que sempre se opôs ao trabalho dela. “É um momento de realização. Clara é uma menina que já começa a olhar o mundo desta forma tão transforma­dora, questionad­ora. Desde 2 anos ela diz que vai ser artista”.

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Sandra Calaça e a filha, Clara, em cena da peça na Casa Laura Alvim

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