KÉFERA ABRE O JOGO SOBRE VIDA, AMOR, YOUTUBE E TELEVISÃO
Depois de tanto tempo no YouTube, agora você finalmente chegou onde queria?
Quando eu criei o canal eu tinha a intenção que ele fosse uma porta de entrada, que algum diretor de TV e/ou cinema me visse e chamasse para fazer uma novela ou um filme. E o canal deu certo, aconteceu sem querer. Ninguém imaginava que a internet viraria o que é hoje. Sim, com certeza fazer a novela era um sonho e agora vou levar o trabalho como atriz (seja na televisão ou no cinema) junto com o meu canal.
Sempre foi seu sonho atuar em uma novela global?
Desde criança já sonhava ser atriz. Com 15 anos comecei a fazer teatro. E na primeira aula, tive a certeza que era isso que queria fazer da minha vida. Então, sim, sonhava trabalhar em uma novela.
Como surgiu essa oportunidade de fazer a Mariane?
Foi um convite do diretor Pedro Vasconcelos. Achei curioso porque ele conheceu meu trabalho assistindo a meus filmes e só depois viu meus vídeos na internet.
Como foi receber a notícia que você estava escalada?
Fiquei feliz por ser escolhida pelo Pedro, mas confesso que senti um pouco de medo, pois é bem diferente do que eu já tinha como experiência, que era o cinema e o teatro. A novela é uma obra aberta, a personagem começa de um jeito e você não sabe como ela termina. Mas estou muito feliz com esse novo desafio.
O que você e a Mariane tem em comum?
Temos em comum o fato de sermos atrizes que são ativas nas redes sociais. Mas só. De resto, somos totalmente diferentes.
Como está a repercussão da sua personagem nas ruas?
A Mariane apareceu bastante no primeiro capítulo, mas a trama dela mesmo ainda vai esquentar. Então, ainda não deu pra sentir a repercussão nas ruas. Mas na internet, recebi muitas mensagens de pessoas que acreditam no meu trabalho e que ficaram felizes ao me ver na novela.
E seu canal no YouTube? Sobra tempo para mantê-lo atualizado?
É possível conciliar, porque eu que decido a hora que vou gravar. Então, fico coletando temas ao longo dos dias e me concentro para gravar tudo certinho de uma vez.
Muita gente notou que você não era muito engajada (pelo menos não abertamente), e de repente começou a levantar a ban-
deira do feminismo e do empoderamento. O que mudou?
Faz dois anos que comecei a conhecer mais profundamente a causa do feminismo. Muitas pessoas não sabem o que significa de fato o feminismo. Então, eu fui lendo, estudando, aprendendo, e tudo foi ficando mais claro na minha cabeça. E foi ficando claro para mim também que preciso me posicionar. Eu lutei muito para chegar onde cheguei, ainda mais nessa sociedade machista
que a gente vive. Eu já fui muito alvo de comentários machistas no YouTube. Eu era a única mulher que tinha um canal grande no começo. Hoje temos canais de outras mulheres, o que me deixa muito feliz. Ouvi muitas coisas machistas e não sabia lidar. Eu tinha 17 anos. Era pesado e eu nem entendia o que estava acontecendo. Quando você percebe que o feminismo tem toda uma história, um passado, e que a gente está aqui hoje com direitos e, apesar de ainda não termos uma sociedade
igualitária, a gente consegue viver muito melhor que as mulheres do passado. Tudo isso acontece porque o feminismo existiu e ainda existe.
Desde que começou, você já passou por enormes mudanças. A sua vida saudável é uma delas. Não sente falta de enfiar o pé na jaca?
Faz parte da vida saudável ter noção que enfiar o pé na jaca também é saudável. Não podemos ser extremistas com nenhuma dieta. Nem nos privar de comer o que temos vontade o tempo todo. Então se tem vontade de comer algo, coma. Tá com desejo de comer alguma sobremesa ou algo considerado errado... Aliás, esse conceito de errado em relação à comida é algo que existe para fazer a gente sentir culpa, o que deveria ser desconstruído, porque isso gera vários distúrbios e transtornos. Na minha opinião, tudo tem que ter um equilibro porque é muito ruim as pessoas colocarem a comida como uma vilã para a mulher, principalmente. Faz muito tempo que abri mão de levar tão a sério isso de manter a linha sempre, isso judia muito. É importante manter o equilibro, comendo o que quer e não levar um estilo de vida sedentário, o que é muito importante.
Seu namoro com o DJ Eme parece ser mais reservado que os seus antigos relacionamentos. Por que adotar essa postura?
Eu amadureci muito. E ele é um cara muito maduro. A gente gosta de postar fotos juntos, mas tudo tem um limite. Muitas coisas que vivemos não ficamos filmando e postando. Porque queremos manter a privacidade e não ficar refém de relatar tudo que acontece na nossa vida. Mas postamos fotos e escrevemos declarações sim quando temos vontade de fazer isso. É espontâneo, natural. Eu sou muito romântica, gosto de me declarar.
Como costuma lidar com relacionamento a distância? Isso atrapalha vocês?
Ele viaja muito, toca por todo o Brasil. E eu agora estou gravando a novela no Rio. Então sempre damos um jeito de nos encontrarmos. Quando ele pode, ele vem ficar comigo no Rio ou em São Paulo. Quando eu posso, o acompanho nas festas que ele toca. Eu acho que a distância não atrapalha a gente, sempre lidamos bem com isso. Acho que até ajudou a consolidar o sentimento. Ajudou a tornar o relacionamento mais maduro e a provar que confiamos um no outro. A base de um relacionamento é a amizade e a confiança. Não dá pra ter um relacionamento a distância e ter ciúme, porque assim não se vive em paz.
O que te tira do sério?
O que me tira do sério é ver o quão desigual é o mercado de trabalho para a mulher e quanto ainda somos oprimidas por conta do machismo da sociedade. Além disso, fico muito triste ao ver tanta gente doente por conta de padrões de beleza e estereótipos que são colocados na nossa cabeça.
Suas cachorrinhas e a gata vem morar no Rio contigo?
Se eu vier morar definitivamente no Rio por conta da novela, os trarei para cá comigo. Mas, por enquanto, estou entre Rio e São Paulo e tenho pessoas que me ajudam com eles enquanto estou gravando.
Pretende morar no Rio de vez ou voltar para São Paulo?
É minha segunda vez morando parcialmente no Rio como atriz. Já fiquei um tempo aqui antes por conta de um filme. Eu gosto muito do Rio. E se gravar novela fizer parte da minha vida constantemente daqui para frente, por que não? Eu gosto bastante da cidade, é muito bom ter o mar por perto, isso me faz muito bem.
Agora que teve seu trabalho reconhecido na TV aberta, ainda veremos aquela Kéfera sem papas na língua, que arrota alto e fala palavrões?
Sempre foi muito espontâneo o que fiz. Não vou forçar a barra para manter a imagem de moleca, até porque estou crescendo e amadurecendo.
Você costuma ser vaidosa?
Tenho fases. Já fui muito vaidosa. Hoje em dia eu não me preocupo tanto com isso, me preocupo mais com meu bem estar emocional do que com a vaidade em si. Prefiro estar vestida de forma confortável. Estou muito feliz com as ondas do meu cabelo depois que parei de alisá-lo. Tenho me sentido mais bonita de cara lavada, sem maquiagem. Sempre gostei de ser mais básica, mas eu me montava e às vezes me produzia excessivamente porque as pessoas querem te ver assim. Claro que vez ou outra vou querer estar mais arrumada, maquiada ou com um vestido de festa. Temos que nos sentir bem, isso é o mais importante.
Você acha importante como pessoa pública se posicionar politicamente?
Sim, porque temos uma influência muito grande em pessoas que às vezes ainda não têm uma opinião formada, ou porque não se preocupam tanto com isso, ou porque não sabem o quão importante é falar sobre política e prestar atenção em quem vai cuidar do nosso país ou estado. É importante mostrar atitudes que condeno em um candidato e que, na minha opinião, podem prejudicar o país.
Acredita que nessas eleições as pessoas estejam mais engajadas?
Eu acho que nessas eleições as pessoas estão muito briguentas, estão tratando as eleições como se estivessem em um ringue de luta. E a questão do voto consciente é o mais importante.
Na TV aberta, rola um ciúme ou preconceito por parte dos colegas da plataforma?
Acredito que não.