O Dia

Orgulho de ser banguense

- André Luis Mansur Baptista

UJornalist­a e escritor

ma das lembranças mais marcantes que guardo do Velho Maracanã é a da final entre Bangu x Coritiba no Campeonato Brasileiro de 1985, quando eu e meu pai estávamos entre os mais de 90 mil torcedores de todos os clubes do Rio ostentando milhares de bandeirinh­as com as cores vermelha e branca do clube da zona oeste carioca. O Bangu, infelizmen­te, perdeu a decisão nos pênaltis.

Eu estava na geral, atrás do gol em que o atacante Ado deu azar e chutou na trave. Apesar da tristeza, os torcedores, incluindo aí a tradiciona­l charanga, que tocou sem parar o jogo todo, tinham motivos para ter orgulho não só do time, mas também do bairro que nasceu planejado no final do século XIX.

Quem anda por Bangu sempre vai encontrar alguém com a camisa alvirrubra do clube, cuja história se confunde com a do próprio bairro. Aliás, o futebol é um dos motivos de orgulho dos moradores não só por causa do clube, fundado em 1904, mas também porque os pesquisado­res que se debruçaram sobre a história da Fábrica Bangu, inaugurada em 1893 e que deu origem ao bairro, garantem que foi nos seus arredores que o futebol brasileiro começou a dar os primeiros passos, ou chutes.

E quem teria sido o responsáve­l? O escocês Thomas Donohue, mais conhecido como “Seu Danau”, um dos muitos trabalhado­res britânicos da fábrica, que fez a bola rolar (segundo os pesquisado­res) em um terreno da fábrica no dia 9 de setembro de 1894, sete meses antes, portanto, que o inglês Charles Miller realizasse a primeira partida oficial de futebol Brasil, em 14 de abril de 1895, no Brás, em São Paulo.

A tese é defendida por pesquisado­res como o jornalista Carlos Molinari, autor do livro “Nós é que somos banguenses’, o historiado­r Rogério Melo e Richard McBrearty, curador do Museu do Futebol Escocês, que afirma que a partida organizada por Donohue teve cinco jogadores de cada lado. O debate já gerou artigos, inclusive, na famosa Universida­de de Oxford, na Inglaterra.

Os defensores do pioneirism­o de Charles Miller alegam que a partida organizada por ele foi a primeira no Brasil com onze jogadores em cada lado, ou seja, seria a primeira partida já com as regras oficiais do futebol.

Polêmicas à parte, em 5 de junho de 2014 foi inaugurada, nos terrenos do Bangu Shopping, onde ficava a fábrica, uma estátua de Thomas Donohue com mais de 4 metros de altura e confeccion­ada pelo escultor e cenógrafo Clécio Régis.

A ideia foi de Benevenuto Rovere Neto, o Beto, presidente do Grêmio Literário José Mauro de Vasconcelo­s, conhecido como o Museu de Bangu e que abriga um grande acervo sobre a história do bairro em sua sede, na Rua Silva Cardoso, 349A. O nome do Grêmio, aliás, homenageia o escritor que morou em Bangu na infância e cita o bairro em sua obra mais famosa, “Meu pé de laranja lima”.

Outra forma de ser apresentad­o a esta história é assistindo ‘Bola para Seu Danau’, documentár­io de 11 minutos, disponível no YouTube, que foi realizado em 2015 produzido por Renata Fazzio e dirigido por Eduardo Souza Lima. Para os moradores do bairro, entre eles muitos que estavam comigo naquela distante decisão de 1985, não faltam motivos para vestir com orgulho a camisa do clube e falar da História do bairro. Além da sede da fábrica, Bangu conta com outros monumentos históricos tombados, como a Igreja de São Sebastião e Santa Cecília (1908), a Escola Municipal Getúlio Vargas (1935) e as Palmeiras Imperiais, em frente ao prédio da fábrica, mantendo sua arquitetur­a britânica como um símbolo do surgimento do bairro e do futebol no Brasil.

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