O Dia

Reflexão sobre o bem e o mal em série da Fox

‘Impuros’ conta a história do narcotráfi­co nos anos 1990, no Rio de Janeiro, e destaca o drama humano por trás de cada personagem

- Do Estadão Conteúdo

Uma das principais estratégia­s usadas por traficante­s é misturar amido de milho à cocaína, gerando um maior retorno financeiro. É a chamada droga impura, ou misturada. Ainda que este seja um dos elementos abordados na nova série da Fox, ‘Impuros’, não é pela mistura da cocaína com amido de milho que a produção foi batizada. Seu nome vem das impurezas das próprias relações humanas, sem maniqueísm­os, que nunca conseguem ser completame­nte puras. Não há só bandidos, não há só mocinhos. Tudo, segundo os criadores, pode estar contaminad­o.

“Não existe apenas o bem ou o mal. Somos todos seres humanos, com suas fraquezas e seus problemas. A história é cíclica e esses opostos acabam sempre se encontrand­o”, diz o escritor e criador do argumento central da série, Alexandre Fraga. “É isso que nós queremos contar com ‘Impuros’. Pensamos em toda essa complexida­de das pessoas, como isso vai além e como é preciso prestar atenção nessa ausência de mocinhos e bandidos”.

A história elaborada por Fraga e dirigida por René Sampaio e Tomás Portella se passa ao redor da vida em uma favela carioca nos anos 1990. O tráfico ali reina. As armas circulam, a cocaína é misturada. E no centro da trama está Evandro do Dendê (Raphael Logam), um jovem que leva uma vida comum até o assassinat­o de seu irmão por um policial. Sem chão e com uma dívida para honrar, ele decide entrar para o tráfico do morro e buscar vingança pela morte do irmão.

A partir daí, inicia-se uma briga de classes retratada outras vezes no cinema e na TV, tendo o ápice em ‘Cidade de Deus’, passando pelo sucesso de ‘Tropa de Elite’ e chegando até a “americaniz­ação” em ‘Trash’. A diferença aqui, porém, está justamente no foco nas relações humanas, desenvolvi­das ao longo dos 10 episódios. Evandro, por exemplo, logo engata um romance complicado com a MC Geisi (Lorena Comparato), que foge completame­nte dos estereótip­os da “mulher da comunidade”. O rapaz também precisa lidar com o alcoolismo da mãe após a morte do irmão. Isso sem falar de um policial que possui conexões com o protagonis­ta.

“O principal ponto da série não é a luta entre bandidos e policiais. É o drama humano por trás de cada personagem”, afirma o diretor René Sampaio, que dirigiu recentemen­te o filme ‘Faroeste Caboclo’.

Vale ressaltar que a série não é retratada nos anos 1990 apenas por nostalgia barata. Um dos personagen­s, responsáve­l por toda contabilid­ade do tráfico no morro, acaba tendo o dinheiro da venda de cocaína retido no banco depois do Plano Collor, que confiscou dinheiro em poupanças em todo o Brasil após medida do então presidente Fernando Collor de Melo. Essa subtrama, que gera uma das histórias mais inusitadas de ‘Impuros’, foi o ponto de partida de Alexandre Fraga durante a elaboração inicial da história.

“Queria fazer um filme ou uma série sobre guerra às drogas. Logo depois, comecei a pensar no que as pessoas passaram durante o confisco da poupança, o que pode ter acarretado em suas vidas”, conta o escritor.

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Raphael Logam como o traficante Evandro na série ‘Impuros’, do canal por assinatura Fox ROGER PEREZ CERVANTES

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