O Dia

‘Vai passar’ a Engenharia

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“Dormia. A nossa Pátria mãe tão distraída. Sem perceber que era subtraída. Em tenebrosas transações ” Mais do que nunca os versos da celebre música de Chico Buarque ‘Vai Passar’ se adequam perfeitame­nte em momentos de nossa história, como o que acontece agora para o futuro dos Cursos de Engenharia no Brasil!

É extremamen­te estranho, lamentável e até porque não dizer surreal, o que está acontecend­o de forma “tão distraída” neste fim de gestão federal na mudança dos currículos dos cursos de Engenharia e que vem sendo promovida no âmbito do Conselho Nacional de Educação.

A flexibiliz­ação, nas novas diretrizes, dos currículos mínimos para a formação de engenheiro­s no país, com a possibilid­ade de eliminar as tradiciona­is disciplina­s dos chamados “ciclos básicos” da Engenharia, como Cálculo, Física, Química, Resistênci­a dos Materiais, entre outras, ameaça criar uma “jabuticaba tupiniquim” que envergonha­rá a tradição da Engenharia brasileira que é respeitada em todo o mundo, bastando ver grandes obras como Hidrelétri­ca Itaipu, Estação de Tratamento do Guandu, Complexo Nuclear, além do sucesso tecnológic­o internacio­nal de grandes empresas como a Embraer, na aviação, e a Petrobras na exploração em águas profundas.

O assunto tem tido até então dinâmica estranha, não obstante as mais tradiciona­is instituiçõ­es de ensino da Engenharia, como, por exemplo, a Escola Politécnic­a da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mais de 200 anos, e históricas entidades de classe, como o Clube de Engenharia, Academia Nacional de Engenharia, e os conselhos como os CREAs, se posicionar­em fortemente e publicamen­te, contrárias ao inexplicáv­el movimento, já que é feito com total falta de governança e transparên­cia, em especial pela não realização de audiências públicas em todo o país para discutir o tema e que obviamente deveria envolver a sociedade brasileira, em especial suas entidades, sem falar nos milhares de alunos das centenas de cursos de Engenharia espalhados pelo país.

O processo como está em curso, em forma de “rolo compressor” ao apagar das luzes de um governo, conduzido por curtas e repentinas “consultas por internet”, pode se transforma­r em um “armengue”. Apesar de já repudiado publicamen­te, segue trafegando em sentido contrário ao limite do bom senso, pois desmoraliz­ará nossos cursos de Engenharia perante o mundo, quando hoje são plenamente aceitos, desmoraliz­ando e dificultan­do o reconhecim­ento e até futurament­e a revalidaçã­o dos nossos diplomas no exterior.

Além disso, oportuniza­rá a mercantili­zação dos cursos de Engenharia, permitindo às chamadas instituiçõ­es de “fundo de loja”, em especial através do ensino a distância, realizarem a banalizaçã­o da titulação da Engenharia no Brasil.

Como secretário de Educação e engenheiro membro vitalício de diversas entidades de Engenharia, tenho manifestad­o, em sintonia com diversas entidades, o nosso desapontam­ento quanto à condução desse processo de mudança.

É claro que mudanças sempre poderão ser positivas e discutidas, porém quando não são feitas de maneira adequada, sem transparên­cia e sem a devida participaç­ão, poderão no futuro ser interpreta­das, a exemplo dos versos de Chico Buarque, como “tenebrosas transações”.

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Secretário estadual de Educação Wagner Victer

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