O Dia

Escolhas perigosas

- Gabriel.sobreira@odia.com.br

Durante os quatro anos em que esteve na série ‘Tapas & Beijos’, da Globo, Fernanda Torres exercitou o drama através de seus textos para revistas e jornais. Ontem à noite, ela voltou ao gênero, mas na TV, estreando em ‘Sob Pressão’, sob direção artística do marido dela, Andrucha Waddington, na série da Globo.

“Eles já estavam querendo um personagem assim e falaram lá atrás: ‘Oh, talvez role’. Mas o convite veio de todo mundo. Do Jorge, Andrucha, Lucas. Não achava que ia ter. Eles disseram: ‘Olha, estamos fazendo um personagem que pode ser que você faça’. Eu falei: ‘Poxa, ia ser ótimo, admiro a série’”, lembra ela.

Na história, a atriz é Renata, uma pessoa gananciosa, que chega ao hospital Macedão para ocupar o lugar de Samuel (Stepan Nercessian), que era gestor da unidade por quase 19 anos. Inicialmen­te, todos desconfiam do real motivo de sua chegada, mas, aos poucos, ela vai conquistan­do a confiança da equipe, principalm­ente de Evandro (Júlio Andrade).

“Ela é uma gestora do setor privado, que acha um absurdo o que a saúde pública paga para os médicos, é indignada com as condições de trabalho deles. Ela não é uma pessoa que diz: “ah, vou roubar”. Pelo contrário, ela entra porque quer transforma­r o hospital em um lugar de referência. Só que ela não encontra meios de fazer isso sem ter o aumento de verba”, explica.

Diante do impasse, Renata cede à proposta de Roberto (Marcelo Serrado), assessor da Secretaria de Saúde, e entra em um esquema. “Por exemplo, comprando próteses que custam R$ 70 mil, sendo que (os pacientes) poderiam usar próteses que custam R$ 5 mil. O Estado paga (os R$ 70 mil), e eles dividem parte desse dinheiro. O cara vai ficar com uma superpróte­se, que é uma prótese de atleta. E com isso, ela paga melhor o ortopedist­a, que botou a prótese e topou entrar no esquema. Ela também aparelha (o hospital) com um tomógrafo melhor e abre o CTI”, diz a atriz sobre as outras melhorias realizadas pela gestora.

Mas não é apenas prótese que entra no jogo. Antes mesmo de ela ser oficializa­da no cargo, Renata só aceita trabalhar na iniciativa pública se o salário dela for mantido no mesmo patamar da rede privada. “O Roberto fala que tudo bem, que eles vão armar um esquema com a quentinha/alimentaçã­o. A Renata leva 10% e ganha o que recebia no setor privado. Ele ainda diz: ‘Porque você é ótima, vai melhorar o hospital e quero você aqui’”, lembra.

Na cabeça de Renata, a única saída para “elevar o nível” do Macedão é através desses acordos escusos. “Tanto que ela vira para o médico que trabalha em cinco hospitais e fala: ‘Olha, não quero você em cinco. Quero você aqui inteiro e para isso vou te dar uma comissão (paga com esquema). É uma gestora Tabajara, que no final está afogada na onda de corrupção que ela se dana”, brinca Fernanda.

O caso das próteses foi inspirado em fatos reais. “São em coisas caras que eles ganham dinheiro”, frisa. A situação começa a degringola­r quando o hospital está cheio de próteses de última geração, mas carece de algodão, fios. “Porque ninguém ganha dinheiro com isso. Mas a gestão dela acaba nessa segunda temporada. O hospital fecha por causa dela”, diz a atriz.

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Fernanda Torres, a diretora Renata (alto). À dir. a atriz em cena com Stepan Nercessian e Marcelo Serrado

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