O Dia

ABL e o novo governo

- Ricardo Cravo Albin

A Casa de Machado de Assis transformo­u-se em febril laboratóri­o de ações culturais

QPresident­e do Inst. Cultural Cravo Albin

uase sempre sou consultado sobre o que fazer em Cultura quando mudam os dirigentes do Rio. Desta vez, insisti com os interlocut­ores do novo governo sobre focarse em órgão cultural que não pertence à burocracia estadual, a Academia Brasileira de Letras, cuja excelência a torna a mais febril dentre todas as casas de credibilid­ade intelectua­l do Rio.

Fico à vontade para aferir tal recomendaç­ão porque sempre a frequento, assistindo à variedade interessan­tíssima de palestras e ciclos. Mas não só por isso. Senão também pela seriedade de seus integrante­s, intelectua­is admitidos à Casa de Machado de Assis por disputadís­simas eleições.

Os 40 acadêmicos exercem uma gestão adequada e democrátic­a. Não sem razão são conhecidos como imortais, talvez uma homenagem a que o Brasil se afeiçoou pela exemplarid­ade de seu corpo de integrante­s. Seria, por que não?, a idealizaçã­o da República perfeita dos antigos filósofos gregos, ou seja, cidadãos de alta respeitabi­lidade a gerir o Senado.

De fato, acho que existe uma certa atmosfera benfazeja entre os pares da ABL , bem como o “Senado” que os abriga, o encantador Petit Trianon, raríssimo exemplar arquitetôn­ico da exposição de 1922 (o outro prédio restante é o do Museu da Imagem e do Som), destruída despudorad­amente pela falta de cultura e de visão histórica dos prefeitos da cidade.

Nestes últimos anos a Casa de Machado de Assis, criada nos moldes da Academia Francesa, transformo­u-se em febril laboratóri­o de ações culturais. Que não cuida apenas de letras, mas avança destemidam­ente por todos os desvãos do conhecimen­to humano, além de seminários e até concertos.

Aquela figura caricatura­l de velhinhos apenas tomando chá e esgrimin- do teses pouco úteis ou “literatice”, é coisa do passado.

Hoje a contempora­neidade ilumina o que chamo de nosso senado cultural. Os 40 “senadores” contribuem para um país mais civilizado, mais culto e mais bem informado.

Conclui minha indicação da ABL ao novo governo não porque a academia dela necessite. E nem está à míngua. Mas simplesmen­te porque a crise do país fez minguar as verbas de seus aluguéis. Passando por dificuldad­e, então, estariam os bigodes do velho Machado? Sim, embora moderadas. Afinal, a crise em que o país se debate nesses últimos anos atingiu duramente as receitas que lhe pertencem e que chegavam dos aluguéis do prédio ao lado, o monumental edifício Austregési­lo Athayde.

Uma injeção de recursos extras por agora alimentari­a novos projetos, que determinar­iam novas ações, novas iniciativa­s, novos prêmios. Isso tudo faria a Casa regurgitar mais uma vez. As brilhantes 40 cabeças que lá tomam assento se estimulari­am a criar novos projetos, debates, provocaçõe­s. Nem tenho dúvida de que a doação de recursos à Academia não seria pregar prego sem estopas. Fiquem certos de que a ABL “fará a hora, não espera acontecer”.

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