O Dia

Mas sempre teremos os livros

- Luís Pimentel Jornalista e escritor

Amante da vida, das artes e do futebol, tenho pensado ao longo da semana em João Saldanha, que vivia para o futebol brasileiro, em defesa da dignidade humana dos brasileiro­s e pela soberania do Brasil. “Vida que segue”, ele repetia, encerrando os seus comentário­s esportivos. Seguiremos, tenho dito aos amigos mais próximos, que estão tão perplexos quanto eu, com a certeza de que se não há bem que dure para sempre, também não há mal que jamais se acabe.

Vamos continuar apegados às nossas esperanças. Salvemos o que for possível, especialme­nte a saúde física e mental, as artes, a cultura. Não teremos Paris, como disse o adorável Humphrey Bogart à doce Ingrid Berg- man, em ‘Casablanca’, mas sempre teremos os livros.

Saúdo aqui a intenção da vereadora carioca Verônica Costa, que, a pedido da brava e competente Liga Brasileira de Editores – Libre (que reúne casas livreiras independen­tes e tem promovido ações maravilhos­as em defesa da leitura e do livre pensamento, como a Primavera Literária), preparou documento pedindo às autoridade­s projeto de lei isentando as livrarias do Rio do Imposto Predial Territoria­l Urbano (IPTU). Iniciativa necessária. E bonita. Por falar em beleza, por que será que a maioria das editoras da Libre é dirigida por mulheres (Raquel Menezes, Cristina Warth, Mariana Warth, Helena Lima, Lúcia Koury, Ana Cristina Melo, Marianna Araújo, Thereza Rocque da Motta, Carmila Perlingeir­o, Lucíola Morais, Cilene Vieira, Tereza Christina Mota, Isabel Mauad, Eliana Sá...)?

Não sei. Mas isso é bom.

Na cidade, as editoras já gozam da isenção do imposto. É bom lembrar que apenas entre 2016 e 2017 o Rio de Janeiro perdeu inúmeras livrarias (a última foi a imponente, aconchegan­te e bela Cultura, confortave­lmente instalada na Rua Senador Dantas, para deleite nosso, e que se viu obrigada a fechar as portas); bem como teatros, cinemas, centros culturais etc.

Junto com a Livraria Cultura foi-se, também, o Teatro Eva Hertz, delicado, jeitoso e bonito; pequena joia que brilhava no Centro do Rio.

Vamos torcer, então, para que a iniciativa da Libre e da vereadora sensibiliz­e o prefeito e a Câmara. Até porque, num momento de tanta demonstraç­ão de arrogância e insensibil­idade, de tantos temores sendo espalhados em nossa cidade, nosso estado e nosso país, com certeza de sensibilid­ade é o que mais estamos precisando.

Viva os livros. Viva a Libre. Seguiremos.

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