O Dia

JUNGMANN: AGENTES PÚBLICOS E MILÍCIAS ATRAPALHAM NO CASO MARIELLE.

Ministro da Segurança Pública determina abertura de novo inquérito sobre crimes

- CÁSSIO BRUNO cassio.gomes@odia.com.br

Oministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse ontem que determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para investigar a existência de uma organizaçã­o criminosa que poderia estar atrapalhan­do a apuração dos assassinat­os da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista dela, Anderson Gomes. Segundo Jungmann, este grupo, composto por agentes públicos, contravent­ores e milicianos, atuaria para “impedir, obstruir e desviar a elucidação dos crimes”.

Em entrevista coletiva no Ministério, em Brasília, Jungmann explicou que a decisão não significa a transferên­cia de poderes do caso porque os trabalhos para prender os assassinos e os mandantes continuarã­o com a Polícia Civil do Rio.

“Vão ter duas investigaç­ões em paralelo. A da morte de Marielle continua. Mas vai ter outro eixo, que vai investigar, seja quem está dentro do poder público, ou quem está fora. É uma investigaç­ão da investigaç­ão, vamos assim dizer. Se levar luz sobre quem matou Marielle Franco, é uma possibilid­ade, mas não é esse o objeto”, afirmou o ministro.

Jungmann justificou a medida como necessária por envolver, por exemplo, indícios de fraudes processuai­s, corrupção, favorecime­nto pessoal, exploração de prestígio e falsidade ideológica, entre outros crimes. A abertura de um novo inquérito foi pedida pela procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, a partir dos depoimento­s de duas testemunha­s.

Uma delas é do ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, o Orlando da Curicica, preso no Rio Grande do Norte e apontado como um dos suspeitos. Em entrevista

Viúva de vereadora lamentou demora na solução das mortes que já dura quase oito meses

ao jornal O Globo ontem, o ele contou que a Polícia Civil não tem interesse em solucionar os crimes de Marielle e Anderson.

PROTEÇÃO ÀS FAMÍLIAS

Além disso, Curicica disse que membros da corporação, incluindo o chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, teriam montado uma rede de proteção aos envolvidos nos assassinat­os. Em nota, Barbosa repudiou “a tentativa de um criminoso altamente perigoso de colocar em risco as investigaç­ões”.

As famílias de Marielle e Anderson terão proteção policial. Em agosto, o ministro ofereceu que a Polícia Federal assumisse a investigaç­ão principal dos dois assassinat­os, mas a Polícia Civil do Rio recusou. À jornalista Miriam Leitão, na GloboNews, o governador eleito do Rio, Wilson Witzel (PSC), disse que a elucidação das mortes será divulgada até o fim do ano.

“Não apenas como companheir­a de Marielle, mas como cidadã, sinto tristeza e vergonha porque a morte dela fará sete meses (agora oito meses) sem qualquer solução. Qual poder que vai resolver? Pouco importa. O estado brasileiro deve uma resposta ao mundo”, declarou Mônica Benício em entrevista ao DIA.

Para Mônica, a decisão de Jungmann é um “somatório de forças” e considerou “relevante”. Ela defendeu que toda a investigaç­ão fique a cargo da PF. “Não creio que o governo do estado resolva”, lamentou. Marielle e Anderson foram mortos a tiros, em 14 de março, no Estácio. Estavam em um Chevrolet Agile branco quando os assassinos, em outro veículo, atiraram. Uma assessora da vereadora escapou.

 ?? GUILHERME CUNHA/ALERJ/DIVULGAÇÃO ?? A vereadora Marielle Franco foi morta em 12 de março, no Estácio
GUILHERME CUNHA/ALERJ/DIVULGAÇÃO A vereadora Marielle Franco foi morta em 12 de março, no Estácio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil