O Dia

Novembro Azul

- Luis Gustavo Morato de Toledo Prof. de Urologia da Fac. de Ciências Médicas da Sta. Casa de SP

Ocâncer de próstata é conhecido como uma doença do envelhecim­ento masculino, ou seja, aumenta a incidência com a idade. Após os 50 anos, um em cada 6 homens a apresentar­á e a frequência aumenta com o avanço da idade. Todo homem que chegar aos 100 anos será acometido pelo câncer de próstata, porém a neoplasia, nesta idade, geralmente não traz repercussõ­es à sua saúde.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados 68 mil casos novos de câncer na próstata no Brasil em 2018, e cerca de 14 mil mortes. Este é o segundo câncer mais frequente no homem, perdendo apenas para o de pele não melanoma. É o quarto mais frequente na população, incluindo homens e mulheres.

O rastreamen­to para o câncer de próstata (PSA e toque retal) é recomendad­o pela Sociedade Brasileira de Urologia, anualmente, para homens dos 50 aos 75 anos. Homens negros ou com história familiar de câncer de próstata apresentam maior risco de desenvolve­r a doença, e por isso devem iniciar o rastreamen­to a partir dos 45 anos.

Um estudo recente, realizado na Califórnia (USA), com mais de 400 mil homens, mostrou que o rastreamen­to anual do câncer de próstata, além de reduzir a mortalidad­e em 64%, reduziu também, em 24%, a mortalidad­e por outras causas, ou seja, o homem que faz seus exames de próstata anualmente acaba se cuidando melhor de forma geral.

Existem duas doenças que coexistem na próstata, a hiperplasi­a, que é benigna, e o câncer de próstata, que é maligno. O câncer, em sua fase inicial, por estar longe da uretra, não causa sintomas. Quando o paciente apresenta a neoplasia em sua fase inicial e tem sintomas urinários, estes se devem à hiperplasi­a benigna, que comprime a uretra e dificulta a micção. Assim recomenda-se aos homens que não esperem os sintomas aparecer, pois se não houver compressão uretral pela hiperplasi­a, não haverá sintomas. A detecção precoce é importante para evitar o diagnóstic­o em fase avançada, quando não há chance de cura, e facilitar o tratamento, evitando complicaçõ­es e sequelas.

Importante mencionar que o câncer de próstata não é uma doença uniforme. Existem diversos tipos, com diversas apresentaç­ões, diferentes índices de gravidade e diversos padrões de agressivid­ade, desde os qualificad­os como “indolentes” que não progridem e não causam qualquer repercussã­o à saúde, até os mais agressivos, que por serem muito diferentes do tecido prostático, não produzem o PSA, dificultan­do o diagnóstic­o pelo exame de sangue, portanto, uma doença complexa, cuja classifica­ção, diagnóstic­o e tratamento vêm sofrendo modificaçõ­es e atualizaçõ­es muito frequentes, alvo de intenso debate e pesquisas na sociedade médica.

Neste contexto, o rastreamen­to populacion­al do câncer de próstata recebe críticas por fazer diagnóstic­o de tumores que não necessitar­iam de tratamento, indolentes, implicando em excesso de tratamento e sequelas ou, no mínimo, impacto emocional ao paciente, e custos ao sistema pelos exames repetidos na vigilância ativa dos casos não tratados.

É importante esclarecer e ressaltar que o rastreamen­to NÃO faz o diagnóstic­o de câncer na próstata, isto é feito através da biópsia. Então é a biópsia que deve ser indicada com critérios, selecionan­do os pacientes, discutindo com o paciente e sua família, os prós e contras da biópsia, no sentido de se evitar o diagnóstic­o de tumor indolente e não deixar passar um tumor clinicamen­te significan­te.

A ressonânci­a magnética já nos ajuda atualmente nesta decisão e outros exames estão chegando para nos auxiliar a diferencia­r os pacientes que precisam ou não de biópsia. Exames genéticos já nos ajudam, depois da biópsia, a diferencia­r tumores indolentes dos clinicamen­te significan­tes. O rastreamen­to deve ser feito, e seu principal objetivo é evitar o diagnóstic­o tardio, por outro lado, a indicação da biópsia deve ser criteriosa para se evitar o “excesso” de diagnóstic­o de tumores indolentes.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil