O Dia

Rio tem 19 juízes com proteção contra ameaças

Um dos magistrado­s que têm sua rotina monitorada por seguranças é Marcelo Bretas, que colocou na cadeia o exgovernad­or Sérgio Cabral e outros réus da Operação Lava Jato. “Não tenho liberdade para nada”, diz ele.

- ADRIANA CRUZ adrianacru­z@odia.com.br

‘Me apego à minha fé em Deus para me dar força. É mais do que um simples trabalho, é uma missão’, assegura o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio, um dos 19 magistrado­s no estado desafiados pelas ameaças de morte. O presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), desembarga­dor André Fontes, teve uma missão espinhosa para montar o esquema de segurança para garantir a vida do juiz. Parte de seus pares que eram contra suposto cuidado excessivo da Corte e o tratam como “deslumbrad­o”. Fontes revela ao DIA como enfrentou a resistênci­a para protegê-lo.

Bretas ganhou os holofotes ao julgar as operações da Lava Jato que atingiram em cheio caciques da política fluminense e que já resultaram em condenaçõe­s de mais de 183 anos ao ex-governador Sérgio Cabral, que está preso. “Não podia ignorar a realidade, suicidaria a Justiça se deixasse um juiz sem proteção”, expõe André Fontes. O desembarga­dor comanda administra­tivamente a Justiça Federal que tem 250 magistrado­s no Rio, estado que tremeu em 2011, quando a juíza Patrícia Acioli, do Tribunal de Justiça, foi assassinad­a por PMs com 21 tiros, em Niterói. Levantamen­to do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aponta que no Brasil há 110 juízes ameaçados.

O desafio de Fontes para proteger Bretas começou em 9 de fevereiro de 2017. Naquele dia, o desembarga­dor foi eleito para a presidênci­a do TRF-2, mas não teve tempo para comemoraçõ­es. “Ao receber os informes, montei uma estrutura em 24 horas ligada ao meu gabinete. Recebi críticas severas porque queimei tudo, não queria vazamento. É por causa da segurança que houve os julgamento­s, condenaçõe­s e absolviçõe­s. Mas se achava que era excesso ou exagero uma espécie de descontrol­e emocional, deslumbram­ento, tudo que se possa imaginar”, conta.

TROCA DE INFORMAÇÕE­S

Fontes alega que a troca de informaçõe­s com outros tribunais e órgãos de segurança são importante­s para o monitorame­nto dos juízes, além da estrutura do TRF-2 montada às pressas para Bretas, mas que ganhou estofo e se estende a outros dois juízes ameaçados. “Mas ainda hoje não é unanimidad­e”, explica Fontes, revelando que um dos críticos depois também pediu segurança à Corte. No Tribunal de Justiça do Rio, o desembarga­dor Antônio Jayme Boente, está no terceiro mandato como presidente da Comissão de Segurança Institucio­nal. O magistrado ressalta que a estrutura instalada nas 92 comarcas foi construída ao longo dos anos, a partir de 2003, quando o desembarga­dor Miguel Pachá era presidente. “Naquela época, tínhamos pouco mais de 300 câmaras, hoje são mais de cinco mil, em razão da continuida­de de investimen­tos”, pontua.

Boente enfatiza que o monitorame­nto sobre a segurança dos juízes independe da vontade do magistrado. “Mesmo que o juiz não peça, não queira, o tribunal vai a ele. Já houve determinad­o juiz que o tribunal teve informaçõe­s de que seria alvo de ameaça. Esse juiz não sabia, saiu de carro para trabalhar e voltou para casa de blindado”, afirma. Boente faz questão de deixar claro que os dados sobre segurança mudam constantem­ente. Segundo, o CNJ são 16 juízes ameaçados. “É uma fotografia do momento, não pode ser analisada como um dado frio. Um juiz da comarca x, com processo da milícia x, em relação a um dos milicianos mais perigosos será monitorado”.

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Juiz Marcelo Bretas ganhou holofotes ao julgar operações da Lava Jato: “Sou 90% trabalho, 5% família e 5% vida social”

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