Moro quer força-tarefa contra a corrupção
Futuro ministro releva declarações do passado e diz que Bolsonaro é ‘moderado’
Em longa entrevista coletiva, juiz indicado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para ministro da Justiça disse que trará integrantes da Lava Jato para sua equipe. Ele negou objetivos políticos.
Ojuiz Sérgio Moro, que aceitou ser o ministro da Justiça e Segurança Pública do futuro governo Bolsonaro, minimizou ontem, durante entrevista coletiva, declarações de caráter racista, homofóbico e de incitamento à violência do presidente eleito.
O juiz disse que as declarações sobre minorias são “pretéritas” (passadas) e que ele quer “olhar para o futuro”. “Pelo menos no que eu observei em nossas conversas, houve um caminhar de moderação”, disse. Moro classificou o futuro chefe como um homem “sensato” e “ponderado”. Outro adjetivo que o juiz usou, por três vezes em uma hora, para se referir ao presidente eleito foi “moderado”.
Negando que tenha voltado atrás em sua decisão de não se tornar político, Moro disse que assumirá o ministério como “um cargo técnico” e que aceitou a tarefa para assegurar a manutenção das conquistas da Lava Jato. “As sensações de que um dia a sorte poderia acabar e poderíamos voltar aquele padrão de impunidade (..) me levaram a aceitar o convite do presidente eleito. O objetivo é implantar uma forte agenda anticorrupção” “e anticrime organizado”.
O CONVITE
Moro negou que sua decisão de tornar pública a delação da Lava Jato na semana do primeiro turno e adiar o depoimento de Lula que estava agendado para o período eleitoral tenham relação com a sua ida para o governo. “Isso não tem nada a ver com o ex -presidente”, garantiu.
Segundo o magistrado, a primeira sondagem sobre a participação no ministério aconteceu em 23 de outubro. “Fui procurado pelo futuro ministro Paulo Guedes”, disse. “Adiantei para ele qual era meu entendimento. Disse que só poderia tratar depois das eleições. Declinei a ele o que seria necessário, que tipo de proposta, que tipo de projeto eu teria”.
Após a eleição, o convite foi aceito durante um encontro com Bolsonaro. “Pareceu uma pessoa bastante ponderada. Conversamos sobre possíveis convergências e divergências e ainda que não haja concordência absoluta, me parece possível chegar no meio-termo, como o próprio presidente declinou.
FORÇAS-TAREFAS
Moro disse que a intenção no ministério éter o mesmo sucesso que teve na Lava Jato. O futuro ministro prometeu levar o modelo da operação, baseada em forças-tarefas destinadas especificamente para determinadas investigações.
O magistrado afirmou que pretende ‘avançar na pauta do enfrentamento não apenas à corrupção como ao crime organizado’.
Moro confirmou que nomes da Lava Jato estão sendo considerados para ocupar cargos no futuro ministério e na Polícia Federal.
MINORIAS E CRIMES DE ÓDIO
Moro disse que “não existe qualquer possibilidade de discriminação contra minorias” e que temores sobre redução da proteção no futuro governo, baseados em declarações de Bolsonaro, são “infundados”.
“Todos têm direito à Segurança pública. Crimes de ódio são intoleráveis”, afirmou, dizendo que, se for necessário, acionará a Polícia Federal (PF) para combater esse tipo de crime.
“Não existe nada de política persecutória contra homossexuais e outras minorias (...) As minorias vão poder exercer seus direitos livremente”, destacou.
INVASÕES E TERRORISMO
Sobre a proposta de Bolsonaro de considerar invasões de propriedades, como terras e prédios vazios, por movimentos sociais, Moro se posicionou de forma contrária. “Tem que responder por agressões a direitos a terceiros. Mas qualificar como terrorismo, não é consistente’.
MAIORIDADE, ARMAS E EXCLUDENTE DE ILICITUDE
Moro buscou o ‘meio-termo’ em determinadas propostas que foram temas de campanha do presidente eleito, como a redução da maioridade penal e o porte de armas. O futuro ministro, que sempre foi contrário à mudança em relação à idade de punibilidade, disse que uma mudança poderia acontecer em casos de crimes graves, como homicídio e estupro. “Ter um tratamento diferenciado para esse tipo de crime me parece bastante razoável”, disse.
Sobre o ‘excludente de ilicitude’, segundo o qual um policial em missão não pode ser punido em caso de morte, mesmo de pessoas não envolvidas em crime, Moro disse que o ideal é “evitar o confronto”, mas que pode haver uma “regulação melhor” para proteger o policial.
Em relação à flexibilização do porte de armas, ele se alinhou ao chefe. “As regras atuais são muito restritivas”.
Ainda que não haja concordância absoluta (com Bolsonaro), me parece possível chegar no meio-termo SÉRGIO MORO, futuro ministro da Justiça