15 VÍTIMAS DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA
Subiu para 15 o número de mortos no deslizamento no Morro da Boa Esperança, em Niterói. Ontem, famílias em luto se despediram de 11 das vítimas, que foram enterradas no Cemitério do Maruí. E, no local da tragédia, começou o jogo de empurra para ver quem v
Depois que sete casas e uma pizzaria foram abaixo, levando 15 vidas no Morro Boa Esperança, em Piratininga, Niterói, começa a apuração de responsabilidades, medidas para amparar sobreviventes e evitar novas tragédias. Até agora, 22 residências no entorno foram interditadas por riscos. Há promessas de casas para os sobreviventes. Aluguel social. Alguns falam em fatalidade e fenômenos da natureza. Vítimas, em tragédia anunciada.
Mas ninguém é capaz de confortar, por exemplo, Janice Martins Ferreira, 47 anos. Um dia após a tragédia, ela ainda não entendia o que realmente tinha acontecido com a maior parte de sua família. Peças de roupas em duas bolsas de pano foi tudo o que restou dos parentes após deslizamento. O curativo no braço direito é a marca do remédio na veia para estancar a dor de enterrar mãe, irmã, cunhado e quatro sobrinhos. Estava amparada por amigos e voluntários no Colégio Municipal Portugal Neves, em Piratininga, a poucos metros de onde a tragédia aconteceu. “Como vou ser forte, me diz? Não quero ser forte. Fui dormir e acordei com a informação que todos eles estavam mortos”. Não há respostas para ela.
A dona de casa conta que mora na comunidade, mas não perto de onde o desabamento aconteceu. Na noite anterior, a matriarca da família, Maria do Carmo Ferreira, 80, havia reunido filhos, netos, cunhados, sobrinhos e alguns amigos mais íntimos para um jantar. Após a comemoração, alguns parentes foram embora e outros decidiram dormir na casa da idosa, uma das mais afetadas. No local, segundo o Corpo de Bombeiros, quatro vítimas foram encontradas abraçadas.
A comunidade que acompanhou as buscas das dez vítimas fatais no sábado viu ontem outros quatro corpos serem retirados dos escombros. E recebeu, estarrecida, a notícia da morte de Arthur Caetano Carvalho, de 3 anos, que estava internado.
Equipes da prefeitura monitoram a área para identificação de possíveis riscos. Um drone está sendo usado na avaliação. As famílias ainda não foram autorizadas a entrar nas residências no entorno para pegar pertences. Documentos encontrados nos escombros foram deixados na Associação dos Moradores. A Defensoria Pública do Estado atenderá moradores hoje, das 9h às 17h, na Rua Dr. Carlos Chagas, 1.047.
ÁREA SEM SIRENE
Segundo o prefeito Rodrigo Neves, que ontem esteve na comunidade, a área nunca foi diagnosticada como de alto risco. “Em 2012, houve um inventário sobre área de riscos. Nenhum estudo indicava essa localidade como uma área de alto risco. Sirenes funcionam em Niterói desde 2013. Essa comunidade não tinha porque não estava com apontamentos de alto risco. E mesmo que tivesse sirene, ela não tocaria porque no dia da tragédia não estava chovendo”.
“O evento foi de baixa previsibilidade, era difícil de prever que fosse acontecer”, informou Wilson Giozza, do Departamento de Recursos Minerais do estado. O prefeito decretou luto de três dias. Afirmou que desabrigados vão receber imóveis. E que amanhã vai enviar em caráter de urgência à Câmara dos Vereadores um projeto de lei para ampliar o aluguel social. “Niterói não vai deixar de prestar assistência aos familiares. Até 22 de dezembro vamos entregar as casas. Até lá, elas serão assistidas por aluguel social. Vamos entregar 280 unidades habitacionais para pessoas que estão em áreas de alto risco e mais de 200 unidades em parceria com a Caixa Econômica, no Fonseca”, afirmou. Segundo ele, foram investidos R$ 200 milhões em obras de contenção de encostas na cidade.
A prefeitura pedirá ao governador eleito Wilson Witzel a implantação de sistemas de sirenes em áreas como os morros de Bonsucesso, Esperança e Caniçal.
Esperaram acontecer e agora querem ajudar? Não adianta, não vai trazer ninguém de volta
TAÍS FERREIRA RODRIGUES, irmã de Alan, que morreu soterrado