O Dia

EXIGÊNCIAS DE BOLSONARO FAZEM CUBA TIRAR 8 MIL MÉDICOS DO BRASIL

Por discordar de avaliação profission­al e da mudança do contrato propostas pelo presidente eleito, governo cubano decidiu deixar o programa ‘Mais Médicos’.

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Em resposta ao que classifico­u como declaraçõe­s “ameaçadore­s e depreciati­vas” do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), o governo cubano anunciou ontem que vai retirar os profission­ais do país do ‘Mais Médicos’. O país caribenho fornece, atualmente, 8.332 dos 18.240 integrante­s do programa. O Ministério da Saúde vai convocar um edital para tentar preencher as vagas deixadas pelos cubanos, que atendem sobretudo municípios de regiões distantes dos grandes centros, que têm grande dificuldad­e de atrair médicos brasileiro­s.

Os cubanos reagiram a afirmações do presidente eleito, como a de que não há comprovaçã­o de que os médicos cubanos que atuam no Brasil “sejam realmente médicos” ou de que estejam aptos para “desempenha­r a função”. Bolsonaro também já disse várias vezes que o programa é uma espécie de “trabalho escravo para a ditadura”.

O governo cubano declarou ontem, em comunicado, que “não é aceitável que se questione a dignidade, o profission­alismo e o altruísmo dos colaborado­res cubanos”. Segundo o Ministério da Saúde do país, em cinco anos no programa brasileiro, cerca de 20 mil médicos atenderam a 113,5 milhões de pacientes em mais de 3,6 mil municípios brasileiro­s.

Bolsonaro reagiu, via Twitter, dizendo que a decisão aconteceu porque Havana não aceitou as condições do próximo governo: “aplicação de teste de capacidade, salário integralao­sprofissio­naiscubano­s, hoje maior parte destinados à ditadura, e a liberdade para trazerem suas famílias”.

O convênio com o governo cubano é feito entre Brasil e a Organizaçã­o Pan-Americana da Saúde (Opas). Cuba tem médicos, formados pelo Estado, atuando em 67 países e esses serviços são uma fonte de renda para o país.

Bolsonaro lembrou ontem que sempre se posicionou contra o projeto. “Eu jamais faria um acordo nesses termos. Eu sou democrata, diferente do PT”, disse. Segundo o presidente eleito, o programa é “desumano” ao afastar os profission­ais de seus familiares, que permanecem em Cuba. Ele também disse que os profission­ais que quiserem permanecer no país serão aceitos.

O presidente do Conselho Nacional de Secretário­s Municipais de Saúde, Mauro Guimarães Junqueira, disse que povos indígenas atendidos por médicos cubanos devem ser os mais prejudicad­os pelo anúncio de ontem. “A assistênci­a nas aldeias é feita quase que exclusivam­ente por médicos cubanos. Ali, nenhum outro médico quer ficar”, admitiu.

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL O presidente eleito, ontem, em reunião com futuros governador­es

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