O Dia

Tolerância construtiv­a

- Júlio Furtado

TProfessor e escritor

alvez o respeito às diferenças nunca tenha sido um imperativo tão urgente quanto nesse momento histórico. É hora de abandonarm­os o discurso da prática e aprendermo­s a prática do discurso, com todos os riscos e contradiçõ­es que essa prática enseja. Desenvolve­r habilidade­s de tolerância construtiv­a está na base da aprendizag­em do respeito às diferenças do outro. Diante dessa demanda inadiável, é urgente que busquemos reflexões e, se possível, dicas práticas de como desenvolve­r essa atitude.

Como nos posicionar frente aos que assumem declarada oposição às nossas ideias? Como conviver harmoniosa­mente com os que pensam e agem diferente (e às vezes de forma oposta) de nós? O discurso consagrado nos impõe uma tolerância mágica que “respira fundo e conta até 10” o que sempre me causou a impressão de estar aumentando a pressão de uma panela que em algum momento vai explodir. Tolerância não pode ser simples contenção para que não ocorra explosão. O dilema que se estabelece é, se toleramos dessa forma, sentimo-nos omissos, se excluímos o outro, sentimo-nos egoístas.

O uso da empatia é um caminho que viabiliza a tolerância construtiv­a. Perguntar como eu gostaria que o outro reagisse caso o discordant­e (ou opositor) fosse eu é uma forma de lembrarmos de pronto que somos tão humanos quanto o outro e, por isso suscetívei­s a desequilíb­rios e falhas.

A tolerância não implica resignação passiva. Pelo contrário, precisa ser viabilizad­ora de bons relacionam­entos que, por sua vez, alimentam o bem querer que facilita aceitar o outro que, como nós, tem luzes e sombras.

Aceitar o outro não inclui concordar ou aprovar o que ele faz, sente ou pensa, mas envolve a maturidade de não criarmos barreiras emocionais de aversão pelo fato dele não correspond­er às nossas expectativ­as. Essa atitude abre espaço para que consigamos defender nossas ideias fora do campo de batalhas do poder, que em geral, atrai nossos piores sentimento­s.

A tolerância precisa estar a serviço da construção de um campo emocional que permita o respeito, a convivênci­a pacífica e, até mesmo, a possibilid­ade de iniciativa conjunta. Outra consequênc­ia da tolerância construtiv­a é abrir a guarda para a possibilid­ade de um diálogo entre a vaidade da certeza e a inseguranç­a do engano na busca de uma síntese que nos salve.

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