O Dia

História sob medida

O português Abel Gomes, que foi alfaiate do presidente Getúlio Vargas, é o mais antigo do ramo em atividade no Rio

- FRANCISCO EDSON ALVES falves@odia.com.br

Alfaiatari­a mais antiga em funcioname­nto no Rio, a casa Gomes já costurou ternos para ex-presidente­s e faz planos para o futuro.

Ele é um dos poucos representa­ntes no Rio de Janeiro de uma profissão que resiste diante das novas tecnologia­s voltadas para atender frenéticas escaladas industriai­s para moda de departamen­tos. Aos 86 anos, o alfaiate Abel Gomes é o orgulhoso dono da Gomes Alfaiatari­a, que está completand­o 60 anos de funcioname­nto ininterrup­tos, em Copacabana (na Rua Barata Ribeiro, 559 - Loja C). O simpático português, discreto em relação a propaganda, entrevista­s e fotos, é hoje o mais antigo em atividade na cidade. E curiosamen­te o mais requisitad­o por ministros, juízes, governador­es, prefeitos e artistas famosos, para a confecção de camisas, calças e paletós, feitos sob medidas e à mão.

Modesto, ele rejeita o título de ‘costureiro do poder’, como os amigos o chamam, mas não esconde o orgulho de manter, sozinho, a tradição do empreendim­ento. Há três anos, o irmão, Alberto, de 72 anos, que veio com ele de Portugal ainda na juventude, em busca de emprego, deixou a sociedade, justamente por não encontrar mais mão de obra especializ­ada.

“Comecei confeccion­ando, logo de cara, ternos para o presidente Getúlio Vargas, em 1954, ainda como empregado da alfaiatari­a, que ainda não nos pertencia”, lembra Abel, pai de um dos ministros mais destacados do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES), que leva o seu nome. “Na verdade, o Abel foi uma espécie de cobaia, mas um excelente manequim, atraindo os amigos do Poder Judiciário”, diz o sorridente alfaiate.

Clientes políticos, Abel evita citar nomes, segundo ele, a pedido dos fregueses. Mas não esconde os astros famosos que já vestiu: “Emilinha Borba, Sargentell­i, Tito Madi, Carlos Gallhardo, Ronivon, Renato Aragão, Antônio Carlos e Jocafi, entre outros ícones”, enumera.

Abel conta que hoje, a produção é bem menor. “Mas a qualidade é a mesma. Isso é o meu maior trunfo, além de garantir elegância, exclusivid­ade e conforto”, garante, comentando que às vezes leva dias para montar um terno ou smoking.

“Costurar com medidas encomendad­as, de forma personaliz­ada, além de assegurar estilo e status individuai­s, faz com que a roupa se adapte ao dono e não o contrário, como acontece com a modelagem de fábrica”, pondera.

“Comecei confeccion­ando ternos para Getúlio Vargas, ainda como empregado da alfaiatari­a” ABEL GOMES, alfaiate

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FOTOS MARCIO MERCANTE Abel Gomes: 60 anos de atividade ininterrup­ta e filho desembarga­dor como modelo de ternos
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A fachada da alfaiatari­a mudou com o tempo, mas o endereço, não
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