O Dia

ORGULHO DE ZUMBI

Dos 224 profission­ais que voltam para Cuba, maioria trabalhava em unidades de áreas carentes

- BRUNNA CONDINI brunna.condini@odia.com.br

Homenagens ao Dia da Consciênci­a Negra encheram de cor e som vários pontos da cidade. Um cortejo cruzou o Centro.

Não é de hoje que os moradores do Complexo do Alemão recebem com simpatia os estrangeir­os que frequentam a comunidade. O próprio nome do lugar é uma homenagem ao polonês Leonard Kaczmarkie­wicz, que na década de 1920 comprou as terras da Serra da Misericórd­ia, onde a favela se instalou. Apesar de nascido na Polônia, o tal Leonard acabou sendo chamado de ‘alemão’ por causa da pele clara e cabelo louro. Nos últimos tempos, os moradores do Complexo rendem homenagem a outros gringos: os médicos cubanos. A saída desses profission­ais do programa ‘Mais Médicos’ causo uuma onda de lamentação. Todos que foram tratados por eles se desmancham em elogios.

“Tinham tratamento carinhoso, nos ouviam com atenção”, conta Maria das Graças Silva Moreira, que se diz satisfeita com oa tendimento dado pelo cubano Ernesto Barcelos a ela, os três filhos e sua mãe.

Assim como no Alemão, outras áreas carentes do Rio se ressentem da partida dos profission­ais vindos de Cuba. Havana anunciou o fim da participaç­ão no Mais Médicos após o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), questionar a qualificaç­ão dos médicos cubanos e afirmar que faria mudanças no acordo. Na cidade do Rio de Janeiro, trabalhava­m 41 profission­ais em 32 unidades da rede de atenção primária, como as Clínicas da Família.

Atendida pela doutora Dalia Porro, médica do programa, na Clínica da Família Herbert de Souza, em Tomás Coelho, a aposentada Maria dos Anjos Rocha, 68 anos, afirma que gratidão é a palavra que resume o atendiment­o que recebeu da profission­al cubana.

“Já estou sentindo muita falta. Na minha vida toda nunca tive uma médica igual a ela. A doutora Dalia descobriu minha diabetes, tratou minha pressão alta, me examinava da cabeça aos pés. Foi um anjo na minha vida. Humana, carinhosa, me tratou mais de três anos”, recorda. Maria reconhece que há bons profission­ais de saúde por aqui. “Dou 10 para os nossos médicos, apesar das dificuldad­es. Mas tenho que dizer que dou 100 para a doutora Dalia”, comenta a aposentada, com humor e alguma saudade.

Não só os pacientes lamentam a debandada. O agente de saúde e vice-presidente do Sindicato dos Agentes Comunitári­os de Saúde do Município do Rio de Janeiro (SINDACSRJ), Wagner de Souza, 41 anos, sendo 15 dedicados à área, conta que trabalhou desde a inauguraçã­o na unidade conhecida como CMS Alemão (hoje Clínica da Família), localizada no Complexo do Alemão, de onde também é morador, e recebeu o suporte durante três anos de médicas cubanas.

“Tinham comprometi­mento com a população, eram detalhista­s. Trouxeram a cultura de acreditar e praticar medicina preventiva”, observa Wagner.”Faziam um atendiment­o integral, acompanhav­am até o fim os pacientes, cobravam respostas, mandavam chamar”. Segundo Wagner, a troca entre as médicas e os profission­ais de saúde cariocas era grande.

A maior falta será sentida mesmo pelos pacientes. “Já estamos numa época de falta de médicos, agora os cubanos vão embora. Sou muito grata à médica que atendeu a mim e a minha filha”, declara a cabeleirei­ra Glória Alves da Silva, moradora do Alemão.

Nunca tive médica igual. A doutora Dalia descobriu minha diabetes, tratou minha pressão alta, me examinava da cabeça aos pés MARIA DOS ANJOS ROCHA, aposentada

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DANIEL CASTELO BRANCO
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REPRODUÇÃO REPRODUÇÕE­S Médico cubano Julio César Naranjo trabalhava no Centro Municipal Vila do Céu, em Campo Grande
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Equipe de saúde que tinha médicos cubanos indo à casa de um paciente no Complexo do Alemão
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A aposentada Maria dos Anjos

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