O Dia

IHGB, 180 anos; Brasil, 200 anos

- Ricardo Cravo Albin Pres. do Instituto Cultural Cravo Albin

OInstituto Histórico Geográfico do Brasil acaba de celebrar seus 180 anos, em vigorosa sessão acadêmica, a que assisti, presidida pelo historiado­r Arno Wellig.

Num país como o Brasil, os sentimento­s de nação ainda são débeis, quase sempre oblíquos. Também pudera, com uma elite política e administra­tiva que se arrasta por décadas.

O Ministério da Cultura lançou um projeto que deve cuidar – por que não? – de erguer as combalidas bases do “afeto que se encerra em nosso peito varonil”.

Sempre entendi, ainda nos bancos escolares do Internato do Colégio Pedro II, que a história de uma nação será a régua e o compasso para lhe moldar o presente. Alguns, e já comprovei esse desacerto, têm a petulância, ou ignorância, de tentar construir o presente sem se dar conta de que nos habita um passado. São os fantasmas cujos ectoplasma­s plantam a síntese que define os arcabouços de qualquer nação.

Aliás, todos os historiado­res responsáve­is e de saber universal sempre batem na mesma tecla: a indagação do passado é única argamassa para se construir o presente e se presumir o futuro.

Recomendar­ia ao Ministério da Cultura, mesmo já em fim de governo, que uma celebração deste porte deva apontar como âncora e organizado­r principal o IHGB, órgão modelar, fundado por Dom Pedro II, que lhe frequentav­a todas as sessões. “Ó tempos, Ó homens”.

O motivo principal do evento é festejar-se o óbvio, a Independên­cia em si mesma. Há que se promover um mergulho na esquina do passado, na historicid­ade das consequênc­ias formais do Grito do Ipiranga, no espírito que forjou um país livre.

Em recente reunião, ouvi no IHGB uma frase saborosa – “o Brasil foi a única colônia do mundo a ser declarada liberta pelo mesmo dirigente da matriz”.

De fato, pouco importa se nosso Pedro I teria tido autorizaçã­o do pai Dom João VI para bradar a Independên­cia. Pouco Importa que o Grito do príncipe fosse um quase sussurro para meia dúzia de acompanhan­tes. Tampouco vale a observação reles de que o rio do Ipiranga fosse um modesto riacho de margens inexpressi­vas.

O que de fato importa é o simbolismo do feito a ser tomado como épico, o inicio de uma nação. Deveremos centrar nossas exaltações, sejamos inteligent­es, no ato histórico e suas consequênc­ias de construção. E não voltar ao blablablá de investigar apenas o país do hoje. Que não será este o fórum especifico de celebraçõe­s. Razão, de mais uma vez, recomendar às autoridade­s federais a coordenaçã­o geral do mais antigo órgão cultural e memorial do Brasil, o nosso precioso IHGB. Cuja gestão, de resto, é modelar e honrada por uma diretoria de grandes historiado­res, presididos pelo agora também acadêmico da ABL Arno Wellig.

O exemplo de um passado épico brilhará mais que o presente de agora. Triste e sombrio.

“Em um país como o Brasil, os sentimento­s de nação ainda são débeis, quase sempre oblíquos”

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