O Dia

‘Quero que meu seguidor goste de mim pelo que eu faço e não pelo que eu sou’

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Nordestino do interior do Alagoas, Carlinhos Maia explodiu na internet com as gravações de seu cotidiano na famosa Vila onde mora, na cidade de Penedo. Os vizinhos viraram personagen­s e diante de tanto sucesso, o lugar se tornou parte do roteiro de quem visita a região. Mas tudo indica que em breve a Vila se tornará ponto turístico. É que Romero Brito está com um projeto para pintar todas as casas com sua arte que conquistou o mundo. O local ganhará ainda mais vida e cores.

▪ Tudo começou no celular...

L Ainda bem né, meu filho? Primeiro no facebook. Batia 30 milhões, 25 milhões de visualizaç­ões, eu e mamãe. Ali eu já tinha percebido que mamãe dava audiência.

▪ Como você se tocou que seus vizinhos despertava­m interesse no público?

L Os seguidores me diziam: ‘ei, gostei desse personagem’. Eu pensava: personagem? É só minha vizinha aqui que me dá café e está no contexto da minha vida. Ela não é uma personagem. É uma pessoa da vida real.

▪ Tempos atrás as pessoas gostavam de ver o rico com todo luxo em volta. E na Vila não tem nada disso.

L Fica tedioso, isso. Porque a gente só via e não tinha. Hoje, você assistir a Vila e o Carlinhos... No começo eu ficava me privando: ‘não vou colocar essa roupa, não. Não vou postar esse carro, não, porque se não o povo vai achar que estou enricando.’ Muita gente me dizia que eu estava perdendo a essência. Mas eu pensei: ‘eu vou começar a mentir se a minha parada é a verdade? Eu comecei mostrando a minha vida real e vou mentir que hoje eu também ganho dinheiro com o meu trabalho?’ Porque se for assim eu vou estar mentindo pro meu público. Vou mentir que não ando de avião e de helicópter­o? É uma ostentação? Não! É a minha realidade hoje também!

▪ Você se acha muito mais bonito hoje?

L Muito mais! Boca, pele, jeito de ser... Gosto de me ver no espelho. Adoro minha imagem e ser quem eu sou. E é uma coisa que eu digo todos os dias: ‘se eu não gostar, quem vai?’ ▪ A sua cidade Penedo está sendo roteiro de empresas de turismo. Tem excursão passando lá?

L É como se fosse a Disney do pobre. Tem a Disney de Orlando que o povo vai ver o Mickey e a Minie. Aí os ricos vão pra lá e ficam esperando os integrante­s da Vila sair. Aí perguntam: ‘cadê a Branca?’ (uma das personagen­s da Vila). E ficam lá esperando até a Branca sair do meio do mato. Cadê Brenda Ysadora? Aí jogam uma comidinha e sai a Brenda Ysadora de dentro de casa.

▪ Eu queria entender a sua relação com o dinheiro. Você é um cara econômico?

L Não guardo. Eu gasto.

▪ A Vila vai passar por algum tipo de modificaçã­o?

L Você sabe de todos os furos. A Vila vai passar, eu acho, pela maior forma de divulgação artística urbana. Eu diria uma das maiores do Brasil. Por

conta da mídia que Vila traz, e quem vai pintar a Vila é um nordestino que ganhou fama mundial com a sua arte, que é o Romero Brito. Ele vai pintar a Vila inteira para o Natal. Vai pintar todas as casas. Vai ser mais uma fonte de conhecimen­to para as pessoas que gostam de arte.

▪ A arte do Romero Brito é muito colorida, muito viva.

L ‘Viadagem’ maravilhos­a! ▪ E o que sua mãe achou de Paris?

L Mamãe está metidíssim­a. Ela acha que Paris é uma cidade abandonada do Faroeste.

▪ Qual o limite entre o público e o privado?

L Vida pessoal, namoro. O povo quer saber o que a gente faz entre quatro paredes e Isso me incomoda. O povo quer saber porque eu escondo minha vida sexual. Se eu sou gay, se eu sou hétero. Eu apenas não quero expor. Quero que meu seguidor goste de mim pelo que eu faço, não pelo que eu sou.

▪ Qual a sua fonte de inspiração para a Vila?

L O ‘Chaves’ 100%. A minha vizinha Madalena foi pensada como a Bruxa do 71. A Brenda Ysadora (sobrinha do Carlinhos) foi pensada na Chiquinha. Minha mãe na Dona Florinda. Seu Zé no Seu Madruga. E por aí vai... Como foi na vila do ‘Chaves’, tem na Vila do Carlinhos, só que real.

▪ Você já tem dinheiro o suficiente para não ficar mais pobre?

L Não. Tenho que juntar mais um pouco. Mas eu quero ter para montar uma mercearia, pra caso a Vila acabe, colocar os personagen­s pra vender.

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JOÃO CALDAS/DIVULGAÇÃO

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