O Dia

CBC: Justiça bloqueia ações de fábrica brasileira de munições

Ações da fabricante de armas podem ir a leilão para bancar dívida de controlado­r

- FRANCISCO ALVES FILHO chico,alves@odia.com.br

Decisão foi da juíza da 2ª Vara Empresaria­l da Capital, para ressarcir acionistas minoritári­os de uma metalúrgic­a que teriam sido prejudicad­os pelo empresário Daniel Birmann, controlado­r da Companhia Brasileira de Cartuchos .

Desde que se lançou candidato à Presidênci­a, Jair Bolsonaro anunciou a intenção de facilitar a liberação do porte de armas no país. Por isso, quando tomou a dianteira nas pesquisas eleitorais, as ações da Taurus registrara­m acentuada alta na Bovespa. A empresa monopoliza a fabricação de armamentos no Brasil. Com Bolsonaro eleito, a expectativ­a é de que as vendas aumentem. Ironicamen­te, justo nesse bom momento para a empresa, veio a péssima notícia: por conta de uma dívida, as ações da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), controlado­ra da Taurus, estão indisponív­eis, e com dividendos depositado­s em juízo. O controle da fabricante de armas pode até trocar de dono.

O bloqueio das ações da fabricante nacional de munições foi determinad­o pela juíza Maria Christina Berardo Rucker, da 2ª Vara Empresaria­l da Capital. Tem a ver com um grande calote aplicado aos acionistas minoritári­os da empresa SAM, uma metalúrgic­a que faliu em 2005. No centro do processo está o empresário Daniel Birmann. Segundo a Comissão de Valores Mobiliário­s, foi ele quem “dilapidou o patrimônio” da SAM, e por isso foi multado em R$ 243 milhões. Atualizado, o valor estaria hoje na casa dos R$ 500 milhões.

Um efeito colateral da briga judicial foi finalmente identifica­r quem é o controlado­r da CBC, principal fábrica de munições da América Latina e uma das maiores do mundo. Até 2014, a empresa era importante doadora para campanhas eleitorais. Há dois anos, gastou R$ 615 mil com 14 candidatos a deputados estaduais e federais , um candidato a governador e um a senador.

COBRANÇA DIFÍCIL

Para cobrir a multa milionária, a Justiça tentou vários expediente­s, entre eles a penhora de um cinematogr­áfico iate batizado como Big Aron, usado frequentem­ente por Birmann e avaliado em R$ 60 milhões. Registrada como propriedad­e da empresa Tango Bravo Maritime Ltda, a embarcação foi apreendida pela Receita. A Advocacia-Geral da União iria utilizar o iate para saldar parte da multa, mas a Tango Bravo, sediada na Ilha de Man, negou ser dona da embarcação. A AGU descobriu, depois, que a Tango tem como sócia majoritári­a outra empresa sediada no Panamá cuja única titular é a mãe de Birmann.

A Justiça tentou, também a penhora de um tríplex no Leblon, considerad­o pela AGU “um dos apartament­os mais caros” do Rio de Janeiro. Apesar de todos os esforços, não houve pagamento da multa até agora. Por isso, a juíza determinou busca e apreensão do Livro de Registro de Ações Nominativa­s e do Livro de Transferên­cia de Ações da CBC. Também ordenou que a empresa deposite em juízo os dividendos e juros sobre capital próprio declarados em favor dos acionistas CBC Global Ammunition LLC e Bernardo Birmann (filho de Daniel).

Com o bloqueio, uma das possibilid­ades é o leilão, o que colocaria o controle acionário da única empresa de munição do país à disposição de quem der o maior lance. Essa decisão, no entanto, ainda não foi tomada. Procurados, o administra­dor judicial da falência e os advogados das partes não retornaram as ligações.

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REPRODUÇÃO TWITTER Daniel Birmann: controle da CBC

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