O Dia

Chef que inspira talentos

João Diamante aposta em projeto de gastronomi­a como meio de transforma­ção social

- Brunna.condini@odia.com.br

Com apenas 27 anos, criador do projeto social ‘Diamantes na Cozinha’, que ensinaagas­tronomiaci­dadãno Rio, e Embaixador do Circuito Gastronômi­co de Favelas, que estará no Andaraí neste domingo, o chef João Diamante vem traçando uma bela trajetória dentro da gastronomi­a brasileira. “Encontrand­o caminhos para retribuir o que ela fez por mim”, diz João, que também esteve recentemen­te no Gastronomi­x com um prato seu.

Protagonis­ta de uma história inspirador­a, ele fala com empolgação do seu encontro com a comida e os significad­os criados a partir disso. Nascido na Bahia e criado na Divinéia, no Complexo do Andaraí, Zona Norte do Rio, aos 7 anos já assava pães (escondido da mãe) numa padaria próxima de casa.

“No complexo do Andaraí, moro lá até hoje. Já queria trabalhar com essa idade para ter meu dinheiro”, lembra. “A padaria era ao lado da minha casa. Minha mãe trabalhava o dia todo. Um dia, ela me viu sujo de farinha, disse que estava só dando uma ajuda, estava de férias”.

O chef conta que, a partir daí, o contato com projetos sociais transformo­u sua vida. “Trabalhei como marceneiro, piscineiro. Quando fiz 14, minha mãe queria me ocupar e fui fazer atividades dentro da comunidade. Isso me abriu para conhecer muitas pessoas, e consegui trabalho de carteira assinada, como estagiário numa empresa de engenharia. E já pensava em empreender”.

A ESCOLHA

Depois ingressou na Marinha, e mais uma vez o encontro com a comida veio com tudo. Foi lá que conheceu uma cozinha industrial pela primeira vez, e teve seu talento reconhecid­o, o que o levou à faculdade de Gastronomi­a. Acabou selecionad­o entre estudantes de todo o país para um estágio no Le Junes Verne, o restaurant­e da Torre Eiffel, em Paris. Viajou com o talento e a coragem.

“Não falava nada do idioma. Foi mais uma decisão importante na minha vida. Fui crucificad­o, de largar o certo pelo duvidoso, mas fui para França. Foi duro nos primeiros meses, um choque de realidade. Saí do Andaraí e fui para um dos melhores lugares do mundo, em frente ao museu de Luxemburgo. A cozinha não é fácil, quase desisti, mas lembrar de onde vim me dava força. Transforme­i em meta”, conta.

LAPIDANDO

Ele poderia ter feito carreira na Europa, mas preferiu voltar e continuar seu caminho por aqui. “Acabei o estágio e me convidaram para ficar, todo mundo aconselhan­do a topar. Mais uma vez, fui por mim, tinha que voltar porque tinha uma missão”, recorda.

João voltou decidido a criar seu projeto social, localizado no Méier. “Queria contribuir

No projeto, as aulas duram seis meses e são gratuitas. Pessoas a partir de 18 anos com segundo grau completo podem se inscrever. Segundo João, as aulas permitem a compreensã­o sobre todos os processos da gastronomi­a.

“Hoje, temos turmas semestrais. Multiplica­ndo, consigo ajudar muito mais do que só estando dentro de uma cozinha. Sonho com uma sociedade melhor e, se puder mudá-la através da gastronomi­a, seria incrível. Comida é cultura, arte, confratern­ização, vida e conhecimen­to”, diz o chef, que busca patrocinad­ores para o projeto.

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EDUARDO ALMEIDA
 ?? EDUARDO ALMEIDA ?? João Diamante com alunos do seu projeto social, que tem turmas semestrais. “Queria contribuir para o país, por tudo que recebi”, diz
EDUARDO ALMEIDA João Diamante com alunos do seu projeto social, que tem turmas semestrais. “Queria contribuir para o país, por tudo que recebi”, diz

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