O Dia

Ambientali­stas defendem a criação de uma cidade somente para os jacarés

Ambientali­stas querem que governos federal e estadual criem parque para os répteis e as capivaras

- FRANCISCO EDSON ALVES falves@odia.com.br

Ambientali­stas querem que os governos estadual e federal criem um parque ecológico para preservar os cerca de 5 mil jacarés do papo-amarelo — mil a mais que há cinco anos —, que vivem na Zona Oeste do Rio. Os dados são de monitorame­nto do Instituto Jacaré, no Complexo Lagunar de Jacarepagu­á (de 280 quilômetro­s quadrados, composto pelas lagoas da Tijuca, Camorim, Jacarepagu­á e Marapendi). Vítimas da expansão imobiliári­a desordenad­a, que os expulsam de seus habitats naturais, os répteis aparecem a cada dia com mais frequência em áreas urbanas da Barra, Recreio e Jacarepagu­á.

A ideia da construção de um santuário para os animais, incluindo capivaras, já tinha sido dada pela Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB-RJ no começo deste ano.

“Deixando de investir num projeto sustentáve­l de preservaçã­o dessa espécie, estão matando uma galinha dos ovos de ouro”, adverte o biólogo Mário Moscatelli. Ele diz que se estado e União criarem a ‘Cidade dos Jacarés’, como sugere, garantirão a sobrevivên­cia do papa-amarelo, gerando emprego e renda para milhares de pessoas.

Moscatelli diz que o espaço poderia ser semelhante ao Gatorland, um parque temático gigante em Orlando, na Flórida (EUA), que combina exibições, entretenim­entos e educação ambiental para turistas. “Acho que seria a única maneira de salvar essa população de jacarés, que já enfrenta grave desequilíb­rio ecológico”, concorda o presidente do Instituto Jacaré, Ricardo Freitas Filho, o maior estudioso da espécie do país. “As visitas, porém, devem ser limitadas, respeitand­o a dignidade dos animais”, defende o presidente da comissão da OAB, Reynaldo Velloso.

Vídeos nas redes sociais mostram a presença dos répteis em vias públicas, praias, próximos a shoppings e até dentro de piscinas residencia­is na Zona Oeste. “Embora o número de jacarés tenha aumentado nos últimos anos, trata-se de um cresciment­o tímido, uma vez que 80% deles são machos, na contramão do equilíbrio natural, quando um animal do sexo masculino desse tipo, deveria ter várias fêmeas”, explica.

Segundo ele, a convivênci­a de moradores e turistas com os répteis na Zona Oeste tem ficado perigosa e arriscada. “As pessoas estão tocando nos animais, fazendo selfies perto dos jacarés, jogando paus e pedras neles. Apesar de serem bichos dóceis, uma hora pode haver ataque fatal”, alerta Ricardo.

Moscatelli ressalta que a poluição das lagoas e rios é outro fator que vem ajudando a dizimar a espécie. “Em estudos recentes, com jacarés que morreram em canais poluídos da região, biólogos retiraram do estômago deles, pedaços de garrafas pet, tampinhas de alumínio, sacolas plásticas, partes de tênis e chinelos, enfim, tudo quanto é tipo de material que a popu- lação criminosam­ente lança nos mananciais”, lamenta.

Imagens feitas no último dia 7, em plena Avenida Gilka Machado, na localidade conhecida como Terreirão, no Recreio dos Bandeirant­es, que sofre com a ocupação irregular de imóveis, viralizara­m nas redes sociais. No vídeo, moradores aparecem correndo atrás de um jacaré de grande porte. Um deles chega a segurar sua cauda, enquanto motoristas param carros para fotografar e filmar a cena.

Deixando de investir num projeto sustentáve­l, estão matando uma galinha dos ovos de ouro no Rio MÁRIO MOSCATELLI

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DIVULGAÇãO Ricardo, do Instituto Jacaré: “A convivênci­a das pessoas com os répteis tem ficado abusiva e perigosa”

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