O Dia

Fim do Ministério do Esporte: perda para a Educação

- Leonardo Picciani

Opresident­e eleito, Jair Bolsonaro, prometeu, durante sua campanha, reduzir o número de ministério­s como forma de economizar recursos e melhorar a administra­ção pública. Muito se tem falado sobre a possível extinção do ministério do Esporte, que passaria a integrar uma pasta só, juntamente com os ministério­s da Educação e da Cultura. No passado, essa união já existiu. E o resultado não foi dos melhores.

O ministério do Esporte, como conhecemos hoje, com completa autonomia, foi criado em 2003 e, desde então, o setor passou a ser contemplad­o com inúmeros projetos sociais, além de investimen­tos diretos na formação e qualificaç­ão de nossos atletas.

Por meio de auxílios do ministério do Esporte, 18 das 19 medalhas conquistad­as nas Olimpíadas em 2016, por exemplo, eram de competidor­es beneficiad­os pelo Bolsa Atleta.

Desde que a ideia da transforma­ção do ministério do Esporte em uma pasta sob gerência do ministério da Educação ganhou força, várias personalid­ades têm chamado a atenção para a possível perda de receita para o Esporte.

Tenho uma visão um pouco mais abrangente. De fato, a se prosseguir no objetivo alardeado pelo novo governo de acabar com o Ministério, o Esporte deixará de ter prioridade na hora da divisão das escassas verbas.

Mas será a Educação a principal prejudicad­a. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) enumera, em seu artigo 70, as ações considerad­as como de manutenção e de- do ensino. Além da remuneraçã­o e capacitaçã­o do pessoal docente, a lei fala em manutenção dos equipament­os existentes, construção de prédios e outras instalaçõe­s físicas de uso do sistema de ensino e despesas com serviços de energia elétrica, água, esgoto, entre outras tantas.

Pela Constituiç­ão Federal, até o ano passado a União deveria aplicar 18% da arrecadaçã­o na Educação. A partir deste ano, por conta da Emenda Constituci­onal 95, o investimen­to terá que ser o mesmo de 2017, mais o acréscimo da inflação do ano anterior medido pelo IPC-A.

Ao juntar o Esporte à Educação, muitos gastos que não eram contabiliz­ados para o cumpriment­o da regra constituci­onal passarão a ser. Os Centros de Iniciação ao Esporte (CIE), que são equipament­os para iniciação esportiva em território­s de vulnerabil­idade social, poderão entrar na soma para justificar a aplicação do mínimo exigido por lei. Outro exemplo é o programa Segundo Tempo, desenvolvi­do no contraturn­o escolar. Os custos desse importante projeto também deverão ser utilizados pelo futuro governo, no caso de união dos ministério­s, para cumprir o mínimo constituci­onal.

Essa matemática esportiva, que poderá ser aplicada na soma constituci­onal, mas que terá resultado na subtração de verbas para o aprendizad­o do aluno na sala de aula, não parece ser o melhor caminho.

É difícil, para um presidente que se elegeu prometendo renovar as práticas políticas, voltar atrás em promessas. Mas um grande líder sabe que pior do que retroceder no discurso é dar continuida­de a uma política que mais prejudica do que beneficia os brasileiro­s. Educação deve ser prioridade do país. E o Esporte deve ter seu lugar de destaque para poder continuar contribuin­do com a Educação.

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Deputado federal e ex-ministro do Esporte

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