O Dia

Padre Miguel, um educador

- André Luis Mansur Baptista

Ele é nome de um bairro, de escolas de samba, de escola pública e de estação de trem. O padre Miguel de Santa Maria Mochon, mais conhecido como Padre Miguel, veio de Granada, na Espanha, para o Brasil em 1908, aos 29 anos, para ser o vigário da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Realengo, cuja igreja, aliás, estava em ruínas. Após conseguir a reconstruç­ão do templo, com o apoio da população, o padre Miguel iniciou um amplo trabalho não só de evangeliza­ção na região, mas também de alfabetiza­ção. E para isso ele contou com o apoio de uma invenção recente, que iria dominar o século XX.

O cinema tinha sido inventado em 1905 pelo irmãos Lumière, em Paris, e ainda na Espanha o padre Miguel se encantou por aquela que seria chamada “a sétima arte”. Não só se encantou, como percebeu o alcance que o cinema poderia ter como ferramenta pedagógica. Pois foi usando as suas “maquinazin­has de filmar”, como ele as chamava, que o padre Miguel, baixo e franzino, e mon- tado no seu cavalo Bismarck, conseguiu alfabetiza­r milhares de crianças não só de Realengo, mas de bairros vizinhos e alguns até distantes, como Anchieta, Pavuna e Fazenda Botafogo, em trilhas que ficaram conhecidas como o Caminho do Padre. Foi ele também o responsáve­l pela criação da primeira escola regular da região, a Cardeal Câmara. Além do cineminha, cujas sessões eram realizadas na própria igreja, o padre Miguel também utilizava a tipografia, um equipament­o para produzir impressos, entre eles a revista O Semeador.

O padre Miguel já tinha vindo ao Brasil antes, ainda criança, com menos de nove anos de idade, quando ficou órfão e foi estudar no Colégio Salesiano de Niterói, onde ficou até 1898, continuand­o os estudos no Seminário do Rio Comprido. Em 1904, o Cardeal D. Joaquim Arcoverde o enviou à França para terminar os estudos. Ali, ele se ordenou sacerdote e voltou ao Brasil para nunca mais sair.

O padre Miguel morreu em 19 de março de 1947, aos 67 anos, e seus restos mortais estão enterrados dentro da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, onde ele tanto atuou, na praça muito apropriada­mente chamada Padre Miguel. Em frente, um busto do religioso e, ao lado da igreja, a antiga Escola Nisenvolvi­mento carágua, simbolizam o trabalho deste importante personagem da Zona Oeste do Rio de Janeiro que percebeu, de forma muito inovadora, a importânci­a que a tecnologia pode trazer para a Educação.

A estação de trem que leva o seu nome era chamada de Moça Bonita, referindo-se, segundo a tradição oral, a uma bela moça que morava nas redondezas, não tão famosa como a garota de Ipanema e que perderia o nome da estação para o padre Miguel, alguns anos após a morte do religioso. De qualquer forma, ela daria o nome, de um jeito não oficial, ao Estádio Proletário Guilherme da Silveira, do Bangu Atlético Clube, que homenageia um importante nome ligado à História da Fábrica Bangu, mas que é conhecido como Estádio de Moça Bonita até hoje.

No Carnaval de 1995, a Mocidade Independen­te de Padre Miguel homenageou o padre com o samba-enredo ‘Padre Miguel, olhai por nós’ que dizia “Padre Miguel, Padre Miguel/olhai por nós, olhai por nós/se liga que essa gente tão sofrida, meu senhor/tá sempre aguardando a sua voz”.

A julgar pelos tantos problemas que existem hoje na região onde o religioso viveu e trabalhou, o enredo continua muito atual.

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