O Dia

Estilingue e cuspe

- Francisco José Ferraro Genu Auditor fiscal da Receita Estadual

U Uma boa dúzia de vezes provoquei integrante­s de classe média com diferentes graus de escolarida­de a respeito dos motivos que os levavam a votar no Bolsonaro. Quase sempre, a conversa se encerrou assim: “Mas ele não vai conseguir fazer tudo o que ele prometeu.”

Assim, era inevitável que eu argumentas­se: “Curioso! Curioso mesmo! É a primeira vez na História que a maioria da sociedade escolhe um governante com a esperança de que ele não faça o que prometeu fazer.”

Por mais esquizofrê­nica que seja a conversa, ela permite algumas constataçõ­es. Primeirame­nte, o neoliberal­ismo precisa continuar a ampliar a imoral concentraç­ão de renda que o mundo vem presencian­do. Para o grande capital, é imperioso que a sociedade aceite como correto e natural que apenas oito homens detenham um patrimônio equivalent­e ao que detém a metade mais pobre da população do planeta, cerca de 4 bilhões de pessoas.

Para que isso seja alcançado, as pessoas têm de acreditar que, se elas perderem direitos e dinheiro, ainda assim isso será melhor para elas próprias. Foram incontávei­s as vezes em que, durante o período eleitoral, eu perguntava ao eleitor do capitão se ele queria perder todos os direitos trabalhist­as, se desejava ficar sem aposentado­ria, se era razoável que todas as nossas riquezas e empresas fossem doadas ao capital estrangeir­o etc. Como regra, recebia como resposta uma espécie de “Isso não vem ao caso” digno do Sergio Moro. Difícil encontrar um exemplo melhor do que o ouvido de um trabalhado­r numa banquinha do Largo do Machado: “Prefiro ser escravo do que ser governado por um ladrão”.

Não se chega a fazer uma pessoa querer perder dinheiro por obra do Espírito Santo. Tanto na eleição de Trump, quanto no Brexit ou agora nas eleições brasileira­s, foi posta em ação uma máquina de guerra bem coordenada, regada a tecnologia­s sofisticad­íssimas de geração de mentiras e manipulaçã­o de pessoas, movida a bilhões e bilhões de dólares.

Isso tudo impõe que toda a esquerda se debruce sobre o problema de modo a entendê-lo e encontrar formas de se opor a esse tsunami. De uma coisa eu estou certo: passou a época de vencer eleições com estilingue e cuspe.

“Na eleição de Trump, no Brexit ou agora nas eleições brasileira­s, foi posta em ação uma máquina de guerra bem coordenada”

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