O Dia

CORRUPÇÃO A CALAMIDADE DO RIO

A um mês de passar o cargo, governador é preso no Palácio Laranjeira­s, acusado de receber propina de R$ 39 milhões, no Estado do Rio, em grave crise financeira

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A capacidade de políticos fluminense­s do primeiro escalão de trair o eleitor não para de surpreende­r. Ontem, houve mais um marco histórico no combate às roubalheir­as: Luiz Fernando Pezão tornou-se o primeiro governador em exercício a ser preso no estado. Entre outros crimes, ele é acusado de receber por sete anos propina de R$ 150 mil mensais, com direito a 13º e bônus, num total de R$ 39 milhões. A Operação Boca de Lobo foi batizada assim pela Polícia Federal em alusão ao dinheiro público que a corrupção faz escorrer pelo ralo.

Dois anos e 12 dias depois da prisão do exgovernad­or Sérgio Cabral, o sucessor dele, Luiz Fernando Pezão teve o mesmo destino. O governador do Rio foi preso, na manhã de ontem, sob acusação de ter recebido mensalão de R$ 150 mil e propinas de R$ 39 milhões em espécie, entre 2007 e 2014 — período em que exerceu o cargo de vice-governador na gestão de Cabral, entre outros crimes.

Segundo o delator Carlos Miranda, Pezão não sucedeu Cabral apenas como chefe do Executivo Fluminense. Ele também assumiu a função de arrecadar e distribuir propinas. Entre os beneficiad­os, o próprio Cabral. “Depois de Cabral sair do governo, os pagamentos se inverteram: Pezão passou a enviar a Cabral, R$ 400 mil mensais”, afirmou Miranda, na delação homologada pelo STF. De acordo com a Polícia Federal, Pezão teria aumentado a taxa de propina para 8% dos contratos, mesmo com o estado em crise. No tempo de Cabral, a taxa era de 5%.

Em nota, o Governo do Estado se limitou a informar que “de acordo com o artigo 140 da Constituiç­ão estadual, a chefia do Poder Executivo passa a ser exercida, a partir desta quintafeir­a (29/11), pelo vice-governador Francisco Dornelles”. Por sua vez, o Dornelles disse apenas que “manterá todas as ações previstas no Regime de Recuperaçã­o Fiscal (RRF) e dará prosseguim­ento aos trabalhos de transição de governo, reiterando o seu maior interesse na manutenção do bom relacionam­ento com os demais Poderes do Estado”. O único a protestar contra a prisão foi o próprio Pezão. Após prestar quatro horas de depoimento na sede da Superinten­dência da PF, na Praça Mauá, Centro do Rio de Janeiro, Pezão saiu fazendo sinal de positivo com o dedo polegar e afirmou “é óbvio que eu nego, nego tudo”, quando questionad­o se tinha cometido os crimes dos quais é acusado.

BANHO E CAFÉ DA MANHÃ

Os agentes da Polícia Federal acordaram Pezão para lhe dar de voz prisão. Eram 6h. O governador pediu que aguardasse­m ele tomar banho e café da manhã. Às 7h36m, Pezão deixou o Pa- lácio Laranjeira­s — residência oficial do governador — escoltado. Ele não foi algemado e seguiu na frente da viatura até a sede da PF. Depois de interrogad­o, Pezão fez exame de corpo de delito, passou em Benfica e foi levado para o Batalhão Especial de Prisional (BEP), em Niterói.

Pezão, que morava no Laranjeira­s, um palácio com cinco mil metros quadrados de área construída, vai ficar em uma sala de 15 metros quadrados, sem grades e com apenas uma porta, cama e vaso sanitário. Será permanente­mente vigiado por câmeras de segurança. Ele vai ter direito a banho de sol e atividades físicas durante as manhãs. Vai almoçar e jantar no refeitó- rio do presídio, sendo que o cardápio será o mesmo que é oferecido pela Seap a qualquer preso. Em contrapart­ida, o governador terá que participar todas as manhãs do hasteament­o das bandeiras e ajudar nos trabalhos do presídio, onde existe uma horta. Nos próximos dias, Pezão só poderá receber visitas dos advogados.

 ?? SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA ?? Após ser preso no Palácio Laranjeira­s, governador Luiz Fernando Pezão chega à sede da Polícia Federal
SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA Após ser preso no Palácio Laranjeira­s, governador Luiz Fernando Pezão chega à sede da Polícia Federal
 ?? SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA ?? Agentes conduziram o governador, se algemas, na Superinten­dência de Polícia Federal
SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA Agentes conduziram o governador, se algemas, na Superinten­dência de Polícia Federal
 ?? SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA ?? Sombra de Pezão sempre fez parte da gestão de Cabral no governo do estado. Agora, ambos estão presos
SEVERINO SILVA / AGÊNCIA O DIA Sombra de Pezão sempre fez parte da gestão de Cabral no governo do estado. Agora, ambos estão presos

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