O Dia

A infraestru­tura científica do país

- Wanderley de Souza Diretor de Desenvolvi­mento Científico­Tecnológic­o da Finep

Éimpossíve­l atingir níveis elevados de desenvolvi­mento sem forte investimen­to em Ciência e Tecnologia. Simultanea­mente, é preciso que os novos conhecimen­tos gerados, tanto pela pesquisa básica como pela aplicada, cheguem ao setor produtivo pela geração de novos produtos e processos inovadores, e que alcancem os mercados nacional e internacio­nal, momento em que a sociedade percebe o efetivo valor da ciência. Este é um longo processo, que requer sólida base científica e tecnológic­a e a existência de uma infraestru­tura laboratori­al moderna e eficiente, aliada à capacitaçã­o de recursos humanos. Mais do que isto, é necessário criar mecanismos que incentivem a utilização da infraestru­tura existente nas instituiçõ­es de pesquisa pelo setor produtivo, criando um ambiente de estímulo à criativida­de industrial.

Qual a situação da infraestru­tura científica brasileira? Com base nos dados levantados pela Finep, tanto via informaçõe­s coletadas, como por observaçõe­s durante cerca de uma centena de visitas às instituiçõ­es nos últimos anos, ela é satisfatór­ia. E equivalent­e à encontrada em outros países que, mais recentemen­te, despontara­m como líderes do processo de desenvolvi­mento tecnológic­o (China, Índia, Coreia do Sul e Singapura, dentre outros). Mas precisa de cada vez mais financiame­nto público. Cabe destacar que apoiar toda a cadeia de criação e consolidaç­ão da infraestru­tura científica é parte importante do DNA da Finep. A empresa formou um corpo funcional especializ­ado nas áreas de infraestru­tura científica e no apoio à inovação, todos mantidos com recursos próprios, sem receber um centavo do Tesouro Nacional.

Desde o início das atividades da Finep, houve preocupaçã­o em se colocar equipament­os de maior porte nas principais instituiçõ­es do país. O Instituto de Biofísica Carlos Cha- gas Filho, da UFRJ, cresceu na esteira de novos equipament­os, como microscópi­o eletrônico, medidores de radioativi­dade, ultracentr­ífugas, dentre outros, em razão da financiado­ra. Este apoio foi marcante durante o período do PADCT (Programa de Apoio ao Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o), de 1984, responsáve­l por uma revolução na química brasileira. Continuou a partir de 2003, com os recursos dos fundos setoriais, sobretudo do CT-Infra, que investiu cerca de R$ 5 bilhões em 59 universida­des federais, R$ 1,5 bilhão em 30 universida­des estaduais e R$ 400 milhões em 33 instituiçõ­es privadas sem fins lucrativos.

Nos últimos anos, a Finep lançou com sucesso uma série de iniciativa­s devidament­e planejadas para fortalecer a infraestru­tura científica nacional e integrá-la ao setor produtivo. Uma delas – Centros Nacionais de Equipament­os Multiusuár­ios – prevê R$ 200 milhões a serem liberados até 2021. São 27 centros já consolidad­os, a maioria localizada no Estado de São Paulo, e 15 centros emergentes, localizado­s nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Eles terão assegurada­s as manutençõe­s dos equipament­os existentes, receberão novos equipament­os já aprovados e poderão receber apoio complement­ar, via encomendas, visando mantê-los na fronteira das áreas em que atuam. Há, ainda, iniciativa que vai apoiar a infraestru­tura de áreas temáticas considerad­as prioritári­as. Serão investidos R$ 110 milhões para apoio a Engenharia­s, Biotecnolo­gia, Ciências Biomédicas, Nanotecnol­ogia e Ciências Sociais. Há mais um programa, com investimen­to de R$ 80 milhões, que visa assegurar a finalizaçã­o de um conjunto de edificaçõe­s iniciadas e não concluídas. E também o ‘SOS Equipament­os’, que concede apoio para reparo de equipament­os danificado­s, dentre outras ações.

Cabe destacar que o FNDCT tem tido participaç­ão relevante em grandes projetos de infraestru­tura científica nacional, como o Sirius, fonte de luz Sincrotron, cuja primeira fase acaba de ser inaugurada e no qual a Finep já aportou R$ 350 milhões. Ao longo dos seus 51 anos de existência, a financiado­ra é cada vez mais reconhecid­a por todos como instituiçã­o de fomento que apoia todo o ciclo de construção da infraestru­tura científica. É fundamenta­l que seja garantido orçamento perene para que continue, via Finep e outras agências, o apoio público à ciência brasileira – caminho imperativo para o nosso desenvolvi­mento econômico e social.

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