O Dia

A sétima arte vai aos becos e vielas

Sandro Luz dirige ‘ARep — Operação Rocinha’, que estreia em 2019, e vai dar curso de cinema independen­te

- RICARDO SCHOTT ricardo.schott@odia.com.br

Rodado quase que integralme­nte na Rocinha e contando com a participaç­ão de ninguém menos que Fabiana Escobar, a Bibi Perigosa — cuja história inspirou Glória Perez a criar a personagem de Juliana Paes em ‘A Força do Querer’, da Rede Globo —, ‘ARep — Operação Rocinha’ finalmente chega aos cinemas em 2019. A trabalheir­a de Sandro Luz finalmente vai dar resultado: o analista de marketing nascido no Morro do Encontro, no Engenho Novo (e hoje, morador do Recreio), escreveu, dirigiu, produziu e ainda interpreto­u o personagem principal do filme, o PM Roberto da Silva.

“Eu nunca fui de aceitar o que me impunham e fui buscar o que eu achava que era para mim. Pô, tem gente que tem oportunida­des melhores para fazer e vira vagabundo, diz que não teve chance...”, conta Sandro, que criou a produtora Prosélitos, para levar adiante seus filmes, e atualmente comanda uma equipe de 15 pessoas. Hoje, com a experiênci­a adquirida, vai dar até cursos de cinema independen­te na faculdade Universo, em Niterói. E diz que quem se matricular vai aprender a partir do zero.

“Quando dou aula, pergunto: ‘O que é que você tem para trabalhar?’. O cara responde: ‘Nada, tenho um celular com câmera, emprestado da minha mãe’. Vamos lá, já dá pra fazer. Vale o ‘uma câmera na mão e uma ideia na cabeça’, do Glauber Rocha”, conta.

PROTOCOLOS

Em ‘ARep’ (o título, Sandro diz que tem que assistir ao filme para entender), o tema é o dia a dia truculento na Rocinha, vivenciado pelo policial Roberto (Luz) e pelo traficante Bebezão (Jefferson Luiz), que acabam enredados numa trama parecida. É o terceiro filme de Luz, que já dirigiu ‘Favela das Paixões’ (de 2012, feito no Morro dos Paraíbas, em São João de Meriti) e ‘Traços da Lei’ (filmado no Complexo do Alemão, lançado em 2013, mas iniciado em 2011). Sandro, cujo nome verdadeiro é Alessandro Luz Braz, conta que tem encontrado situações tranquilas ao filmar nas favelas.

“Temos apoio das comunidade­s, da PM, seguimos os protocolos, avisamos todo o mundo. Nosso lugar de filmagem é o mais pacificado do mundo”, alivia-se. Para financiar os trabalhos, Sandro bate em várias portas. E acaba acumulando tarefas justamente por causa das restrições orçamentár­ias. “Isso começou por necessidad­e. E a galera que segue com você até o fim é justamente a que não tem experiênci­a”, afirma ele, que é pai de uma menina de 12 anos e um garoto de 8.

CINEMA NA VEIA

O envolvimen­to de Sandro com o cinema era um sonho antigo e que vinha de uma frustração de infância, quando passou num teste para uma novela, mas seu pai não deixou que ele atuasse. “Ele disse que preto e pobre não aparece na TV. Rasgou o contrato que recebi e agrediu minha mãe”, recorda. Sandro saiu de casa aos 18 anos. Assim que terminou o serviço militar, foi estudar e trabalhar. “Fui trabalhar em restaurant­e, abri negócio, mas não obtinha satisfação”, lembra.

Logo ele se envolveu com um grupo de teatro, mas a companhia ficou sem dinheiro e precisou parar. Sandro não teve dúvidas: fundou sua própria companhia e aprendeu a escrever e dirigir peças. “Entendi que aquilo tudo era tão importante para mim que, se eu parasse, poderia ir a óbito”, diz ele, que após pedir demissão de um emprego, comprou uma moto, para trabalhar de mototáxi, e uma câmera. Aprendeu a editar e a gravar cenas, e fez o ‘Traços da Lei’ dessa forma.

Os projetos não param: um dos próximos deverá ser levar para a telona a vida da amiga Bibi Perigosa — que, em ‘ARep’, faz uma traficante chamada Bibi Tiroteio. “Ela quer mostrar no filme o que a novela não mostrou. E deu consultori­a para a gente no filme, também”, conta Sandro.

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Ator e diretor: Sandro em cena de ‘Traços da Lei’ (D) e o cartaz de ‘ARep’ (abaixo) SANDRO LUZ, Cineasta

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