Palocci acusa Lula de negociar propina

Ex-ministro e delator diz que dinheiro, em troca de MP, era para filho de ex-presidente

Em depoimento à Justiça do Distrito Federal, o ex-ministro Antonio Palocci disse ontem que o ex-presidente Lula (PT) negociou com um lobista de montadoras de automóveis pagamentos a Luís Cláudio Lula da Silva, seu filho caçula. Os repasses teriam como contrapartida a aprovação de uma medida provisória que prorrogava incentivos fiscais para empresas automobilísticas que produzissem veículos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Palocci, que negociou delação com a Polícia Federal em troca de redução de pena, narrou conversas com o ex-presidente sem a presença de testemunhas.

Segundo o ex-ministro, que saiu da prisão em 29 de novembro, após 26 meses atrás das grades, afirmou que entre o final de 2013 e o início de 2014 o filho caçula de Lula o procurou na sede de sua consultoria, em São Paulo, para pedir contribuições ao projeto de implantar uma liga de futebol americano no Brasil. “Ele disse que precisava para o evento ‘Touchdown’, que liderava, para fechar, entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões e pediu que eu ajudasse com recursos via empresas conhecidas, porque eu conhecia muitas”, disse.

O ex-ministro relatou que consultou Lula “para saber se ele me autorizava a fazer isso”. Segundo Palocci, o ex-presidente disse que ele não precisaria atender ao pedido “porque tinha resolvido o problema com Mauro Marcondes”. “Ele me falou que empresas iriam pagar Mauro Marcondes porque ele já prestava serviços a elas (...) e que o Mauro ia repassar recursos ao Luís Cláudio”, afirmou Palocci.

Palocci foi ouvido como testemunha de acusação no processo em que Lula é acusado de corrupção por, segundo o Ministério Público Federal, ter recebido propina para a editar a Medida Provisória 471. Marcondes representava interesses da CAOA (Hyundai) e da Mitsubishi do Brasil) e teria ofertado R$ 6 milhões para financiar campanhas do PT.