Biquini regrava Herbert Vianna
Bruno Gouveia fala sobre a produção de ‘Ilustre Guerreiro’, só com clássicos do guitarrista dos Paralamas
Orelacionamento entre Herbert Vianna e o grupo carioca Biquini Cavadão era fato conhecido entre fãs de rock nacional, nos anos 1980. O guitarrista dos Paralamas do Sucesso era namorado da irmã do primeiro baixista do Biquini, André Sheik. Vendo que a banda do cunhado era bacana, o músico sugeriu o nome do grupo e os indicou (antes que tivessem um repertório pronto!) para o executivo de gravadora Marcelo Castello Branco, que assinou o primeiro contrato da banda com a PolyGram (hoje Universal). Hoje, o Biquini volta ao começo revolvendo o baú de Herbert no disco ‘Ilustre Guerreiro’, em que regravam oito canções escritas pelo paralama.
“Focamos em poucas faixas. Geralmente, as pessoas gravam um disco e o levam para o palco. Quisemos pensar num show com as músicas do Herbert, mas gravamos o disco primeiro”, conta Bruno, feliz em poder homenagear o amigo. “O Herbert nem sempre é citado em listas de grandes letristas, mas é um grande compositor. É fantástico e tem uma visão muito particular. A primeira pessoa que vi escrevendo coisas inteligentes foi ele”.
Bandas estradeiras por excelência, invariavelmente Biquini e Paralamas vão acabar se encontrando por aí durante a agenda de ‘Ilustre Guerreiro’ (o título é o significado do nome germânico “Herbert”). Bruno se anima com a possibilidade do encontro e diz ter muita curiosidade de saber o que o amigo achou da homenagem — o disco, por sinal, ganhou produção de um antigo amigo e colaborador dos Paralamas, Liminha.
“Mandamos um link de áudio para Herbert. Só que a gente é muito tímido, não dá para ficar perguntando”, brinca. “Uma hora a gente vai saber. Mas ficamos felizes com o resultado e os fãs também”.
REPERTÓRio
‘Ilustre Guerreiro’ já tinha saído do baú de ideias do grupo em 2007, mas foi sendo adiado. “O Coelho (Carlos Coelho, guitarrista) é quem falou: ‘Vamos voltar com essa ideia?’. Tínhamos lançado um DVD, um disco de inéditas e resolvemos fazer o que temos vontade de fazer”, diz o cantor, que ainda divide o grupo com o tecladista Miguel Flores da Cunha e o baterista Álvaro “Birita” Lopes. A escolha do repertório, por sua vez, envolveu horas e horas de conversa. Afinal, como seria mexer em músicas que marcaram tanta gente?
“Pra você ter uma ideia, no primeiro dia, ficamos três horas sentados na mesa de som do estúdio conversando com Liminha, para vermos o que seria uma ‘releitura’”, conta Bruno. “Vimos que a música tinha que ganhar pelo groove, pela pegada. A decisão foi a de que, quando a música começar, ela vai propor uma coisa e, lá pelas tantas, você vai ver que estou cantando uma letra do Herbert”.
Com Liminha no baixo, o grupo deu um ar pós-punk a ‘Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim’, feita por Herbert para Ivete Sangalo. O Biquini fez de ‘Vital e Sua Moto’ um ska com metais e levou ‘Mensagem de Amor’ a virar uma balada. ‘Cuide Bem do Seu Amor’ se manteve como balada, ‘Aonde Quer Que Eu Vá’ virou um reggae. Outras duas músicas de Herbert gravadas por cantoras surgem no disco, ‘O Amor Não Sabe Esperar’ (por Marisa Monte) e ‘Só Pra Te Mostrar’ (por Daniela Mercury). Essa quase ficou de fora do álbum por um detalhe básico.
“A gente estava gravando a música justamente no Dia dos Namorados. E é uma música muito apaixonada, a gente não conseguia. Liminha até falou: ‘Vamos parar por aqui, a gente tem mulheres, namoradas, vamos para casa’ ”, conta o vocalista, que teve depois a ideia de fazer a canção de forma “mais solar”. Deu certo.
E tem ‘Ska’: o hit dos Paralamas, com seu riff inconfundível de saxofone, era encarado quase como algo sagrado pelo Biquini Cavadão. “Eu queria deixar essa música pra lá. Para mim era mexer no ‘imexível’ ”, brinca Bruno. Mas o grupo decidiu encarar e pôs a música no disco. “Resolvemos fazer como surf music, que o Liminha adora. Ousamos tanto que resolvemos até não colocar sax na música!”.
A gente é muito tímido, não dá para ficar perguntando, mas uma hora vamos saber o que Herbert achou do disco” BRUNO GOUVEIA
Queríamos deixar ‘Ska’ pra lá. Era mexer no ‘imexível’. Mas gravamos no disco e tiramos até o sax” BRUNO GOUVEIA