PREFEITO É PRESO
Prefeito é preso acusado de receber mais de R$ 10 milhões com cobrança de 20% dos repasses feitos a empresas de ônibus para custear gratuidade em passagens
Rodrigo Neves, prefeito de Niterói, foi levado para a cadeia, na manhã de ontem, em operação do MP que é desdobramento da Lava Jato no Rio. Ele é acusado de desviar mais de R$ 10 milhões de contratos com empresas de ônibus. O político negou o crime e disse estar “perplexo”.
Três dias após lançar programa anticorrupção no município, o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PDT), 42 anos, foi preso. Sobre Neves recai, justamente, a suspeita de receber quase R$11 milhões de propina dos empresários de ônibus da cidade, entre 2014 e 2018.
Por trás da nobre iniciativa de oferecer transporte gratuito às criancinhas, velhinhos e pessoas com deficiência, o prefeito de Niterói, segundo o Ministério Público do Estado, tinha um interesse nada honroso. Ele cobrava 20% dos repasses feitos pela prefeitura às empresas de ônibus para custear as gratuidades.
O Procurador-Geral de Justiça, Eduardo Gussem, disse que esta é apenas a primeira das ações contra Neves e que outras investigações “estão sendo cuidadosamente dirigidas”. Num dos trechos da denúncia, surge o nome da mulher de Neves, Fernanda Sixel Barreto, como provável integrante “nos quadros societários de empresas dos mais diversos setores — dentre elas a Toesa, o que, inclusive, aponta possível prática de lavagem de dinheiro, fatos a serem apurados em investigação própria”. Além do prefeito, foram presos Domício Mascarenhas de Andrade, 59 anos, homem de confiança do político, que o acompanha desde 2008, quando Neves era deputado estadual; o administrador do consórcio Transnit e sócio da auto lotação Ingá, João dos Anjos Silva Soares, 78; e o presidente do consórcio transoceânico, João Carlos Félix Teixeira, 54. Teixeira é sócio de Jacob Barata Filho (o rei dos ônibus) na Viação Pendotiba.
A operação que culminou com a prisão do prefeito foi batizada de ‘Alameda’, nome da avenida onde fica a sede do Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj), em Niterói. De acordo com a denúncia, a maior parte dos pagamentos de propinas era feita no sindicato, de onde Domício saía com uma mochila recheada de dinheiro para ser levada a Neves. Entretanto, a organização também se valia de locais inusitados para entregar o dinheiro da corrupção, como supermercados, shoppings, postos de gasolina, e até em uma escola municipal: o Ciep do Caramujo, na Rodovia Amaral Peixoto. Os encontros para o acerto dos pagamentos, dos quais o próprio Neves participou, de acordo com a denúncia, aconteceram em restaurantes italianos de luxo, no Rio, como o Fasano, em Ipanema, e o Da Brambini, no Leme.
As investigações se basearam nas delações premiadas do ex-presidente do Setrerj, Marcelo Traça, e do ex-marqueteiro de Neves, o publicitário Renato Pereira, sócio da empresa Prole. Ambos afirmaram que o esque- ma de corrupção foi engendrado pelo próprio Neves. Quando a Polícia do Rio e membros do MP chegaram à cobertura do prefeito, em Niterói, ele demonstrou surpresa. “Chegou a chorar”, informou o promotor Túlio Caiban. Clima bem diferente ao da rua, em frente ao prédio, onde cidadãos comemoravam a prisão. Quando chegou à Cidade da Polícia, Neves protestou inocência, se disse perplexo e garantiu que não tem bens, não faz viagens ao exterior e nem tem dinheiro na conta corrente. Ele foi levado para a Cadeia de Benfica. A secretaria de Administração Penitenciária não divulgou qual unidade prisional onde Rodrigo Neves vai ficar.
Rodrigo Neves foi preso três dias depois de lançar programa anticorrupção