O Dia

Mortos no Fallet: disparos seriam de curta distância

Onze dos mortos durante uma operação policial teriam levado mais de dois tiros. Defensoria representa­rá 15 famílias hoje

- RAFAEL NASCIMENTO rafael.nascimento@odia.com.br

A perícia verificou, inicialmen­te, que pelo menos 11 dos 15 mortos durante operação policial na madrugada de sexta-feira, nas comunidade­s do Fallet, Fogueteiro, Prazeres e Coroa, podem ter sido atingidos por disparos de curta distância, no peito e na cabeça.

Segundo fontes, os 11 corpos foram atingidos por mais de dois tiros cada. Os exames teriam indicado ‘orla de tatuagem’ nas vítimas, ou seja, resquícios de pólvora provenient­es do cano da arma, o que indicaria que os tiros foram disparados de perto. A maioria dos jovens, entre 15 e 22 anos, seriam negros, acrescento­u a perícia.

Na operação, ocorrida depois de tiroteios entre as facções Comando Vermelho e Terceiro Comando Puro nos bairros de Santa Teresa e Catumbi, foram presas 11 pessoas e outras três ficaram feridas. A Polícia Militar afirma que um confronto foi iniciado depois de criminosos fortemente armados atirarem de dentro de uma casa.

Já o ouvidor-geral da Defensoria Pública do Rio, Pedro Strozenber­g, acredita que esses fatos precisam ser investigad­os, pois familiares dos mortos e moradores da região relataram tortura e execução. “Vizinhos escutaram gritos de ‘não faça isso’, ‘perdi’ e ‘tenho filhos’”, disse ele.

Hoje, a Defensoria vai oficialmen­te representa­r as famílias das 15 vítimas. “Vamos pedir laudos de necropsia para verificar as circunstân­cias em que eles foram mortos. E faremos contato com os órgãos de Segurança, como Ministério Público Delegacia de Homicídios, que acompanham o caso”, ponderou Strozenber­g.

OUTRA VERSÃO

Mãe de dois mortos, de 16 e 22 anos, contou que foi à padaria, e ao retornar encontrou os filhos baleados e muito sangue em sua casa. Ela preferiu não ser identifica­da. “Eles estavam dormindo, e fui comprar pão. Quando voltei estavam sendo arrastados para o carro. Me desesperei”, disse.

Os jovens chegaram a ser levados para o Hospital Souza Aguiar, mas não resistiram. A mãe acredita que o mais velho tinha sinais de enforcamen­to e três tiros, um no tórax. O caçula, que ela chama de “pequeninin­ho”, teria sido baleado no peito e esfaqueado nas pernas. “Não consegui voltar pra casa, ainda não estou acreditand­o. Eles gritaram ‘socorro’, mas os policiais joe garam spray de pimenta nos vizinhos. Fecharam a porta, executaram meus filhos, e enrolaram os corpos no meu próprio tapete”, relatou.

Questionad­a se os filhos tinham envolvimen­to com o tráfico de drogas, a moradora do Fallet não soube responder. “Não posso te afirmar que sim ou não, pois o mais velho vivia conversand­o com eles (traficante­s). Isso não quer dizer que os policiais tinham o direito de executá-lo, se viram ou pegaram algo deveriam ter levado ele preso. Mas o caçula eu tenho certeza que nunca”.

Em nota, a PM manteve a versão de que houve confrontos, e não se posicionou sobre a perícia, nem a respeito do relato da mãe das vítimas. A Polícia Civil informou que aguarda o resultado dos laudos periciais e faz diligência­s.

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MÁRCIO MERCANTE/ ARQUIVO Operação foi realizada após denúncia de guerra do tráfico no local
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ACERVO PESSOAL Cápsulas achadas em uma casa

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