O Dia

PARA SEMPRE BIBI

Ícone do teatro brasileiro, Bibi Ferreira morreu aos 96 anos. Atriz, que estreou numa peça ainda bebê, tinha se afastado dos palcos para levar uma vida mais reclusa

- RICARDO SCHOTT ricardo.schott@odia.com.br

Atriz de 96 anos morreu ontem, vítima de parada cardíaca. Ela estava em casa, no Flamengo. Durante todo o dia, recebeu homenagens de vários artistas, que relembrara­m seu talento.

Nome fundamenta­l do teatro brasileiro, Bibi Ferreira morreu às 13h de ontem, após sofrer uma parada cardíaca. Ela estava em seu apartament­o no Flamengo no momento do óbito, ocorrido logo após a atriz sentir-se com falta de ar.

Bibi já havia sido internada em junho de 2018 no hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, com um quadro de desidrataç­ão, poucos dias após completar 96 anos. Também no ano passado, em setembro, a artista divulgou seu afastament­o do palco. Aos 77 anos de carreira, enviou um comunicado avisando que levaria “uma vida mais reclusa, com a família e seus amigos mais íntimos, não estando mais disponível para entrevista­s, mesmo por e-mail”. Na época, Bibi estava começando a ensaiar um show dedicado ao repertório de Dorival Caymmi.

BONECA

Bibi, que se chamava Abigail Izquierdo Ferreira, nasceu em 1º de julho de 1922 no Rio de Janeiro. Sua família era de artistas: o pai era o ator Procópio Ferreira e a mãe, a bailarina espanhola Aída Izquierdo. “Nunca nem precisei de psicólogo. Minha cabeça é muito simples e tive uma mãe fantástica que cuidou disso”, contou Bibi ao DIA em 2016, quando estreava o espetáculo ‘4xBibi’.

Também ao DIA, a atriz relembrou sua estreia no palco, numa peça chamada ‘Manhãs de Sol’, quando tinha apenas 24 dias de vida. “Meu pai começava na carreira, e eu era levada pela minha mãe para as coxias do teatro”, lembra. “Tinha que entrar uma boneca grande em cena. Mas o contrarreg­ra esqueceu. Entrei no lugar da boneca”.

CARREIRA

Bibi Ferreira protagoniz­ou musicais como ‘Gota d’Água’, de Chico Buarque e Paulo Pontes, ‘Minha Querida Dama’ (versão brasileira do clássico ‘My Fair Lady’), ‘O Homem da La Mancha’, ‘Alô Dolly’ e ‘Piaf, a Vida de uma Estrela da Canção’ — este um de seus maiores sucessos de palco, em 1983. Também dirigiu espetáculo­s como ‘Brasileiro Profissão Esperança’, escrito por Paulo Pontes, seu último marido (a atriz foi casada seis vezes).

Ela fez aparições na TV ao longo da carreira, mas preferiu não participar de novelas. Também fez filmes. Sua última aparição cinematogr­áfica foi em ‘O Cravo e a Rosa’, de Jorge Farjalla, que conta a história do teatro brasileiro a partir do casal Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça. O longa foi lançado em 2017 no Festival do Rio. Também foi a primeira mulher a participar de uma transmissã­o do Oscar no Brasil. Foi em 1971, na TV

Tupi.

FALAVA POUCO

Por ter passado dos

90 anos, inevitável que Bibi ouvisse perguntas sobre qual sua receita de longevidad­e. “Isso é bobagem”, disse a atriz ao DIA. “Basicament­e, eu tenho muita saúde mental e física e cuido das duas. Mas nem gosto de falar disso. Não é bom ficar falando das coisas boas que a gente tem!”.

Bibi também explicava que não gostava de falar ao telefone para poupar a voz (“evito falar ao máximo”, contou). E procurava ter disciplina na vida, além de trabalhar muito. “E também ter muita alegria em tudo que faço. Levo tudo na beleza, sem sacrifício­s”, ensinava a atriz, que também adorava Coca-Cola. “Não tenho restrições alimentare­s. Bebo refrigeran­te, como doce. Agora, exercícios, nunca gostei, só no teatro”.

HOMENAGENS

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, divulgou nota de pesar. “O teatro brasileiro perdeu hoje sua grande dama. Bibi Ferreira praticamen­te nasceu no palco e se tornou a referência maior de uma profissão que ela, como ninguém, honrou ao longo de nove décadas. Atriz, cantora, diretora, Bibi criou sua própria companhia teatral e formou talentos que também marcaram a dramaturgi­a brasileira”, escreveu.

O espetáculo ‘70? Década do Divino Maravilhos­o’, de Frederico Neder e Marcos Nauer, irá fazer uma homenagem a ela amanhã. O musical está em cartaz no Theatro Net, que ela reinauguro­u. Na peça, ela é lembrada todas as noites por causa da musica ‘Gota D’Água’, e dessa vez exibirão diversos vídeos dela no palco.

No ano passado, Bibi teve sua vida contada na peça ‘Bibi, Uma Vida em Musical’, com direção de Tadeu Aguiar e texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães, além de Amanda Acosta no papel principal.

O velório de Bibi será no Teatro Municipal do Rio. A cerimônia, aberta ao público, acontece de 10h às 15h. Depois, o corpo será cremado.

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GLOBO/TATA BARRETO
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GLOBO/TATA BARRETO
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Bibi Ferreira nos palcos (ao lado, na versão brasileira de ‘My Fair Lady’)
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