PARA SEMPRE BIBI
Ícone do teatro brasileiro, Bibi Ferreira morreu aos 96 anos. Atriz, que estreou numa peça ainda bebê, tinha se afastado dos palcos para levar uma vida mais reclusa
Atriz de 96 anos morreu ontem, vítima de parada cardíaca. Ela estava em casa, no Flamengo. Durante todo o dia, recebeu homenagens de vários artistas, que relembraram seu talento.
Nome fundamental do teatro brasileiro, Bibi Ferreira morreu às 13h de ontem, após sofrer uma parada cardíaca. Ela estava em seu apartamento no Flamengo no momento do óbito, ocorrido logo após a atriz sentir-se com falta de ar.
Bibi já havia sido internada em junho de 2018 no hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, com um quadro de desidratação, poucos dias após completar 96 anos. Também no ano passado, em setembro, a artista divulgou seu afastamento do palco. Aos 77 anos de carreira, enviou um comunicado avisando que levaria “uma vida mais reclusa, com a família e seus amigos mais íntimos, não estando mais disponível para entrevistas, mesmo por e-mail”. Na época, Bibi estava começando a ensaiar um show dedicado ao repertório de Dorival Caymmi.
BONECA
Bibi, que se chamava Abigail Izquierdo Ferreira, nasceu em 1º de julho de 1922 no Rio de Janeiro. Sua família era de artistas: o pai era o ator Procópio Ferreira e a mãe, a bailarina espanhola Aída Izquierdo. “Nunca nem precisei de psicólogo. Minha cabeça é muito simples e tive uma mãe fantástica que cuidou disso”, contou Bibi ao DIA em 2016, quando estreava o espetáculo ‘4xBibi’.
Também ao DIA, a atriz relembrou sua estreia no palco, numa peça chamada ‘Manhãs de Sol’, quando tinha apenas 24 dias de vida. “Meu pai começava na carreira, e eu era levada pela minha mãe para as coxias do teatro”, lembra. “Tinha que entrar uma boneca grande em cena. Mas o contrarregra esqueceu. Entrei no lugar da boneca”.
CARREIRA
Bibi Ferreira protagonizou musicais como ‘Gota d’Água’, de Chico Buarque e Paulo Pontes, ‘Minha Querida Dama’ (versão brasileira do clássico ‘My Fair Lady’), ‘O Homem da La Mancha’, ‘Alô Dolly’ e ‘Piaf, a Vida de uma Estrela da Canção’ — este um de seus maiores sucessos de palco, em 1983. Também dirigiu espetáculos como ‘Brasileiro Profissão Esperança’, escrito por Paulo Pontes, seu último marido (a atriz foi casada seis vezes).
Ela fez aparições na TV ao longo da carreira, mas preferiu não participar de novelas. Também fez filmes. Sua última aparição cinematográfica foi em ‘O Cravo e a Rosa’, de Jorge Farjalla, que conta a história do teatro brasileiro a partir do casal Rosamaria Murtinho e Mauro Mendonça. O longa foi lançado em 2017 no Festival do Rio. Também foi a primeira mulher a participar de uma transmissão do Oscar no Brasil. Foi em 1971, na TV
Tupi.
FALAVA POUCO
Por ter passado dos
90 anos, inevitável que Bibi ouvisse perguntas sobre qual sua receita de longevidade. “Isso é bobagem”, disse a atriz ao DIA. “Basicamente, eu tenho muita saúde mental e física e cuido das duas. Mas nem gosto de falar disso. Não é bom ficar falando das coisas boas que a gente tem!”.
Bibi também explicava que não gostava de falar ao telefone para poupar a voz (“evito falar ao máximo”, contou). E procurava ter disciplina na vida, além de trabalhar muito. “E também ter muita alegria em tudo que faço. Levo tudo na beleza, sem sacrifícios”, ensinava a atriz, que também adorava Coca-Cola. “Não tenho restrições alimentares. Bebo refrigerante, como doce. Agora, exercícios, nunca gostei, só no teatro”.
HOMENAGENS
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, divulgou nota de pesar. “O teatro brasileiro perdeu hoje sua grande dama. Bibi Ferreira praticamente nasceu no palco e se tornou a referência maior de uma profissão que ela, como ninguém, honrou ao longo de nove décadas. Atriz, cantora, diretora, Bibi criou sua própria companhia teatral e formou talentos que também marcaram a dramaturgia brasileira”, escreveu.
O espetáculo ‘70? Década do Divino Maravilhoso’, de Frederico Neder e Marcos Nauer, irá fazer uma homenagem a ela amanhã. O musical está em cartaz no Theatro Net, que ela reinaugurou. Na peça, ela é lembrada todas as noites por causa da musica ‘Gota D’Água’, e dessa vez exibirão diversos vídeos dela no palco.
No ano passado, Bibi teve sua vida contada na peça ‘Bibi, Uma Vida em Musical’, com direção de Tadeu Aguiar e texto de Artur Xexéo e Luanna Guimarães, além de Amanda Acosta no papel principal.
O velório de Bibi será no Teatro Municipal do Rio. A cerimônia, aberta ao público, acontece de 10h às 15h. Depois, o corpo será cremado.