O Dia

Bombeiros encontram o corpo da 20ª vítima fatal da Muzema

Mulher achada sob escombros não foi identifica­da. Repórteres foram intimidado­s no local

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Ontem, sete dias após o desabament­o de dois prédios num condomínio da comunidade Muzema, no Itanhangá, os Bombeiros encontrara­m, sob os escombros, o corpo da 20ª vítima fatal do desastre. Trata-se de uma mulher ainda não identifica­da. Ainda há três pessoas desapareci­das. E, em mais uma cena lamentável de toda essa tragédia, repórteres de vários veículos de comunicaçã­o que estavam de plantão no local do acidente, inclusive do jornal O DIA, foram intimidado­s por homens supostamen­te da milícia. O grupo estava munido de rádios e filmava as equipes de reportagem.

O dia foi de dor também para quem teve que enterrar seus parentes. No Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, uma família que perdeu quatro pessoas no desastre sepultou duas delas, os irmãos Isac Fabrício Paes Leme e Pedro Lucas Paes Leme, de 9 e 7 anos. Durante a cerimônia, o tio dos meninos, Sandro Cunha, fez uma oração para a mãe das crianças, Paloma Paes Leme, e para o outro filho dela, Rafael Paes Leme, 4 anos, ambos ainda internados no Hospital Miguel Couto, na Gávea. O marido de Paloma, Raimundo Nonato, e uma outra filha adolescent­e do casal, de 16 anos, também morreram.

“Paloma é igual a palmeira, enverga mas não quebra. Ela está de pé e vai contar a sua história”, disse Sandro durante a prece. “Não é fácil perder o que ela perdeu. Ela vai sair disso”, disse, acrescenta­ndo não acreditar que haverá punição para os responsáve­is pela tragédia. Mais cedo, no fim da manhã, a família teve que aguardar, por um bom tempo, a liberação dos corpos de Isac e Pedro porque faltou luz no Instituto Médico-Legal do Rio.

O estudante Thayrone Augusto Silva, 30 anos, também foi prejudicad­o pela falta de luz no IML. O enterro do pai dele, morto na segunda-feira, ocorreu às 15h, em Mesquita, na Baixada Fluminense, mas quase teve de ser adiado. “O corpo chegou ao cemitério por volta das 14 horas. Fizemos tudo às pressas. Isso é inadmissív­el”, reclamou Thayrone.

MILÍCIA NA MUZEMA

Também ontem, o presidente da Associação de Moradores da Muzema, Marcelo Diniz Anastácio da Silva, foi ouvido novamente na 16ª DP (Barra da Tijuca). Segundo policiais, o homem voltou a negar que conhece a milícia que atua no local e disse desconhece­r os construtor­es dos prédios da comunidade. Esta é a segunda vez que Diniz é ouvido na delegacia. Na terça-feira, o depoimento do presidente da associação tinha durado quase seis horas.

Pela manhã, em entrevista à Rádio CBN, o governador Wilson Witzel (pag. 4) afirmou que as equipes de resgate estão atuando sem problemas na favela e que a segurança na área está garantida pela PM. Witzel chegou a dizer que a milícia “não é a principal chaga do estado”. Ele acrescento­u, no entanto, que esses grupos estão sendo combatidos. Equipes de reportagem que acompanhav­am o resgate de pessoas dos escombros se retiraram do local do desabament­o ontem, depois que foram intimadas por homens supostamen­te da milícia que atua na região.

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