O Dia

Após críticas, Moraes revoga censura

Ministro confirma existência de documento citado em reportagem sobre o presidente do STF

- > Brasília

Sob pressão, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu ontem revogar a decisão dele mesmo de censurar a revista digital “Crusoé” e o “Antagonist­a”. Os veículos postaram a reportagem “O amigo do amigo do meu pai”, citando o presidente do STF, Dias Toffoli. Até a revogação, a remoção da reportagem dos sites foi criticada por ministros da Corte, como Celso de Mello e Marco Aurélio Mello.

Na justificat­iva para a revogação, o ministro afirmou que, “comprovou-se que o documento sigiloso citado na matéria realmente existe”. Ou seja, a reportagem não é “fake news”. A informação do documento é a de que Marcelo Odebretch identifico­u Dias Toffoli como o dono do apelido “amigo do amigo de meu pai”, em uma lista que não tinha valores ao lado.

“Na matéria jornalísti­ca, ou seus autores antecipara­m o que seria feito pelo MPF do Paraná, em verdadeiro exercício

de futurologi­a, ou induziram a conduta posterior do Parquet”, escreveu Moraes.

Segundo a reportagem apurou, o ministro entrou em contato com Dias Toffoli antes de derrubar a censura. Nos últimos dias, eles foram bombardead­os por críticas de entidades da sociedade civil, de integrante­s do Congresso Nacional e da Ordem dos Advogados do Brasil.

A decisão foi divulgada depois de o decano do STF, ministro Celso de Mello, divulgar mensagem em que reafirma que qualquer tipo de censura - mesmo aquela ordenada pelo Poder Judiciário - é “prática ilegítima”.

Quarta-feira, o ministro Marco Aurélio Mello havia chamado de “censura” e “retrocesso” a decisão de Moraes de remover dos sites o conteúdo jornalísti­co.

Em entrevista na manhã de ontem à Rádio Bandeirant­es, Dias Toffoli negou que o STF tivesse imposto censura à revista. Na sua avaliação, a instituiçã­o se defendeu de ataques e notícias que classifico­u de inverídica­s.

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem de manhã, durante comemoraçã­o do Dia do Exército, que a imprensa é essencial para a democracia e sinalizou que quer uma relação mais amistosa com jornalista­s.

À tarde, em sua live no Facebook, Bolsonaro parabenizo­u Moraes pelo recuo. “A imprensa funcionand­o, mesmo com alguns percalços, é importante para que seja mantida a chama da democracia. É aquela velha história: melhor uma imprensa às vezes capengando do que sem ter imprensa”, disse.

A prática da censura, inclusive da censura judicial, além de intoleráve­l, constitui verdadeira perversão da ética do Direito CELSO DE MELLO, ministro do STF

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NELSON JR. / STF
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REPRODUçãO

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