MORRE MAIS UM INOCENTE
FUZILADO POR SOLDADOS DO EXÉRCITO
Alvejado por três dos 83 tiros disparados por militares, o catador de latas Luciano Macedo morreu ontem. Ele tentou ajudar o músico Evaldo Rosa, que dirigia o carro que foi alvo do ataque. Viúva de Luciano, Daiane está grávida de cinco meses.
Prestes a ser pai, morreu na madrugada de ontem o catador de recicláveis Luciano Macedo, baleado por militares ao tentar salvar motorista de carro atingido por 83 tiros no dia 7 de abril, em Guadalupe. Luciano não resistiu e morreu após ser submetido a cirurgias. Parentes e amigos de Luciano afirmaram que, a dor da perda aumenta ao lembrarem que o Exército não prestou ajuda. O Comando Militar do Leste disse que já foi iniciado contato com a família através do advogado João Tancredo.
O comandante do Comando Militar do Sudeste, general Luiz Eduardo Ramos, disse que é preciso esperar investigações. Segundo ele, os militares foram emboscados e ele sabe como são momentos de muita tensão.
Luciano foi atingido por três disparos nos pulmões, ao tentar ajudar o músico Evaldo Rosa, que passava de carro com a família pela Estrada do Camboatá. O músico morreu na hora, e seu
sogro também foi baleado, mas já teve alta. No veículo estavam ainda o filho de 7 anos de Evaldo, a mulher dele e uma amiga. Eles não se feriram.
O catador estava internado há 11 dias no Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, onde passou por traqueostomia e cirurgia nos pulmões quarta-feira.
A Justiça chegou a determinar por duas vezes a transferência para unidade com mais recursos. “A mãe dele está revoltada. O filho dela foi baleado e eles foram abandonados”, se queixou Antônio Carlos Costa, presidente da ONG Rio de Paz, que assiste a família.
MILITARES NO HOSPITAL
O advogado João Tancredo, que atende a família de Luciano, disse que, quartafeira, soldados do Exército estiveram no hospital para que Luciano prestasse depoimento. “Ao saber disso, liguei para o coronel Cláudio Viana Pereira, que deu a ordem de busca, e contestei a atuação dos militares. Na ocasião, o coronel disse que Luciano teria que prestar depoimento, já que ele era uma das partes envolvidas no inquérito”, disse o advogado.
Segundo ele, só ontem ele recebeu telefonema do Exército. “Um capelão do Exército ofereceu ajudas espirituais. Eu agradeci, e disse que, no momento, a família estava precisando era de ajuda psicológica e material. Ainda na conversa, esse oficial disse que eles também teriam um pastor (para dar ajuda espiritual)”, contou Tancredo.
Luciano havia descoberto que seria pai do primeiro filho poucos dias antes de ser baleado pelos militares. Ele estava muito feliz com a notícia da gravidez da mulher, Daiana Horrara, que está grávida de 5 meses.