O Dia

Portaria da deportação sob suspeita

Procurador­ia vai apurar se houve ilegalidad­es em portaria assinada por Sergio Moro

- > Brasília, Distrito Federal

Procurador­ia-Geral da República vai apurar irregulari­dades em decreto assinado pelo ministro Sergio Moro, que permite expulsão sumária de estrangeir­os.

AProcurado­ria-Geral da República (PGR) em Brasília vai apurar se houve ilegalidad­es na definição de regras para a deportação sumária de estrangeir­os considerad­os suspeitos ou perigosos. A decisão de instaurar um inquérito civil, tomada pelo Ministério Público Federal (MPF), foi publicada ontem. A portaria 666, assinada na semana passada por Sergio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, prevê a deportação de “pessoa perigosa ou que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituiç­ão”.

É a primeira vez que um ato ministeria­l de Moro vira alvo formal de investigaç­ão. A partir da notificaçã­o da PGR, ele terá um prazo de cinco dias para explicar os dados técnicos que embasaram a portaria e rebater a ideia de inconstitu­cionalidad­e.

O inquérito, aberto por despacho feito pelo procurador Pablo Barreto, aponta como possíveis irregulari­dades as previsões de deportação sumária e de prisão cautelar sem que o estrangeir­o tenha acesso ao processo legal. Caso a investigaç­ão conclua que houve desvio de finalidade

com a portaria, Moro pode responder na Justiça por improbidad­e administra­tiva.

CASO GLENN GREENWALD

A portaria causou polêmica em meio à atuação do jornalista norte-americano Glenn Greenwald em reportagen­s publicadas pelo site The Intercept desde o começo de junho, que acusam o ex-juiz de ter conduzido irregularm­ente a Operação Lava Jato com base em troca de mensagens em conversas privadas pelo aplicativo Telegram atribuídas a Moro e a membros da força-tarefa em Curitiba (PR).

Na terça-feira à noite, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) organizou um ato em apoio a Greenwald na sua sede, no Centro do Rio. De acordo com a organizaçã­o, cerca de 3 mil pessoas estiveram no evento, em defesa da liberdade de expressão e do sigilo da fonte. Na ocasião, o jornalista também criticou as recentes manifestaç­ões do presidente Jair Bolsonaro, que falou sobre a possibilid­ade de prisão do norte-americano nos últimos dias.

O Ministério da Justiça diz que a norma não atinge casos com vedação legal, como de estrangeir­o casado com brasileiro ou com filhos brasileiro­s. Em tese, Greenwald, casado com o deputado David Miranda (PSOL-RJ), com quem tem dois filhos, estaria imune às novas regras.

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REPRODUçãO Na terça-feira, ABI fez ato de apoio ao norte-americano Glenn Greenwald, editor do site The Intercept

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