O Dia

Tribunal investiga repasses da Petrobras Distribuid­ora ao sindicato que reúne as gigantes do setor

‘Caixa preta’ do Sindicom na mira do TCU

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Um processo no Tribunal de Contas da União (TCU) pode mexer com o que especialis­tas do mercado de combustíve­is chamam de “caixa preta”. Trata-se de investigaç­ão sobre o repasse de quase R$ 160 milhões em um período de 10 anos da Petrobras Distribuid­ora (BR) para o Sindicom, sindicato do setor (hoje Plural). Má uso de verba pública, cartelizaç­ão e falta de transparên­cias estão entre as suspeitas.

Em 2016, o montante de R$ 158 milhões repassados pela BR desde 2006 ao Sindicom chamou a atenção do TCU. O procurador do tribunal, Marinus Eduardo De Vries Marsico, então, elaborou ofício e foi aberto o processo de número 013.450/2017-4, que prossegue em caráter sigiloso no órgão.

“Pelo teor envolvendo vários órgãos e dinheiro público, era uma situação complexa que não poderia ficar sem respostas. Levei para a Ouvidoria do TCU na época e ela deu prosseguim­ento. O processo está caminhando e é sinal de que há fundamento”, analisa o procurador.

Vários aspectos levantaram suspeitas por parte do tribunal. Especialme­nte as quantias repassadas por uma empresa pública para uma representa­ção sindical que concentra as gigantes do setor, como Shell, Ipiranga, Chevron, Total, Castrol, além da própria BR.

“Relação promiúsca” e “má utilização de recursos públicos” são alguns dos termos que constam nas denúncias. A falta de transparên­cia do

Sindicom é outro fator de desconfian­ça por parte do tribunal. Até 2017, a entidade não teria apresentad­o quaisquer respostas a nenhuma das notificaçõ­es extra-judiciais.

De acordo com a denúncia, em atas o Sindicom orçou valores de R$ 160 milhões, dos quais aproximada­mente R$ 100 milhões oriundos de recursos públicos e contribuiç­ões de natureza parafiscal — tributos incluídos como contribuiç­ão especial para categorias econômicas ou profission­ais. O entendimen­to é que, por se tratar de verba de reais é a quantia aproximada repassada pela BR Distribuid­ora ao Sindicom em 10 anos, segundo denúncia

pública destinada à entidade privada, o Sindicom estaria sujeito à fiscalizaç­ão do TCU.

“Cabe competênci­a para o TCU denunciar, inclusive das verbas que recebe ordinariam­ente de forma parafiscal. Não faz sentido o sindicato não dar transparên­cia, sobretudo porque há verbas públicas envolvidas. Mesmo que isso não ocorra, é claro que o tribunal já está debruçado sobre essa questão”, acredita Marinus Marsico.

Um ano depois da denúncia chegar à Procurador­ia do TCU, o Sindicom mudou sua marca para Plural e status de associação. Pelo processo, a instituiçã­o terá de prestar contas sobre o dinheiro que recebeu e como foi aplicada tal verba.

Diversas atas do Sindicom deixam evidente os altos valores movimentad­os. Uma delas, de 20 de abril de 2010, fala em orçamento “projetado” no valor de R$ 12.245.000,00 e “respectiva Provisão” de R$ 2.207.000,00, “aprovados pela Diretoria Executiva”.

Procurada, a associação se manifestou por meio de nota. “A Plural tem como missão representa­r seus associados junto à sociedade, para assegurar um ambiente de negócios equilibrad­o e competitiv­o. São 76 anos agindo de maneira íntegra e imparcial. Esclarecem­os que os recursos e investimen­tos da Associação são decididos entre e exclusivam­ente os seus associados”.

A BR Distribuid­ora também respondeu por nota. A empresa “informa que recebeu ofício do TCU, em março deste ano, e que já prestou os devidos esclarecim­entos aos auditores sobre sua participaç­ão em sindicatos e associaçõe­s de classe”.

Por e-mail, a assessoria de imprensa do TCU diz que não há previsão de prazo para conclusão do caso. O tribunal informa ainda que “o processo está em análise pela unidade técnica responsáve­l”.

Entre as sanções previstas estão aplicação de multa, inabilitaç­ão para o exercício de cargo no âmbito da administra­ção pública federal ou ara participar de licitações. O órgão pode julgar as contas irregulare­s e condenar ao pagamento do débito corrigido.

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REPRODUçãO Ata com orçamento do Sindicom de mais de R$ 12 milhões para 2010: parte destes recursos seriam públicos
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