O Dia

SEXTA-FEIRA, 5H O DIA E O HORÁRIO DO ‘PERDEU’ NO RIO

Dados do ISP mostram os dias e os horários com mais registros de roubos a pedestres na Região Metropolit­ana

- Colaborou Luana Dandara

Dados do ISP revelam os hábitos dos criminosos que atuam na Região Metropolit­ana. Horários preferidos para os assaltos são quando as vítimas estão indo para o trabalho ou voltando para casa.

MARIA LUIZA DE MELOmaria.melo@odia.com.br‘Ele pediu para eu levantar a camisa e levou minha aliança, relógio e cordão, tudo de ouro. O prejuízo foi de cerca de R$ 2 mil. Eu vi que ele tinha um volume na cintura, parecia estar armado, e não paguei para ver’. O depoimento é de Ricardo Victer, de 29 anos, que foi assaltado na Lapa. O morador de Campo Grande, na Zona Oeste, sofreu um dos 40.033 roubos a transeunte­s (pedestres) registrado­s na Região Metropolit­ana do Rio no primeiro semestre deste ano.

Uma análise dos dados disponibil­izados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) indica que há horários específico­s

nos quais ocorre a maior parte dos roubos. Quem anda nas ruas, de segunda a sexta-feira, entre 5h e 6h e entre 20h e 21h tem mais riscos de ser roubado. São os horários do “perdeu!”. O dia e a hora recordista­s de registros desse tipo são sexta-feira, 5h.

“É um momento de pura inseguranç­a”, desabafa Marcelo Torquato, de 51 anos, também vítima de assalto. “Hoje em dia a gente tem que olhar para todos os lados para saber quem vem perto de você. Não tem polícia nem guarda municipal. É um sentimento de impotência. Eu tinha R$ 450 na carteira quando fui roubado. Dias depois de registrar o crime consegui recuperar a carteira com os documentos”.

X., que trabalha à noite na região central da cidade do Rio, evita circular com dinheiro e objetos de valor. Ele sabe que pode virar um alvo fácil de criminosos e, por segurança, prefere não dar seu nome.

Os relatos de roubo com violência são muitos. Só no mês passado, foram registrado­s 42 casos de roubo a transeunte na 4ª DP (Praça da República). Segundo levantamen­to feito nos registros de ocorrência dessa delegacia, 12 casos ocorreram na Avenida Presidente Vargas. Em um deles, registrado no dia 29 de julho, uma mulher contou que teve seu cordão de ouro, com crucifixo, levado. O suspeito correu e escapou entre as pistas. Em outro caso, registrado no último dia 12, um homem contou que, pela manhã, “ao sair do metrô, teve sua maleta de trabalho arrancada de suas mãos por um indivíduo, aparenteme­nte, menor de idade”. Um outro rapaz maior levou sua carteira. Ele sofreu escoriaçõe­s numa das mãos provocadas por uma faca.

Os horários prioritári­os para os ataques não são à toa, segundo especialis­tas. “Uma das hipóteses é que, nesses horários, há troca de turno do policiamen­to ostensivo”, avalia o coronel da reserva Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Para ele, o fato de o crime de roubo a transeunte­s estar no topo do ranking de registros de crimes na Região Metropolit­ana revela uma antiga mazela da segurança pública fluminense. “Vivemos um período em que o efetivo é deslocado para operações policiais nas comunidade­s, desguarnec­endo a principal função da polícia, que é o policiamen­to ostensivo”, diz Rodrigues.

Presidente do Instituto de Criminalís­tica e Ciências Políticas da América Latina, José Ricardo Bandeira chama a atenção para uma outra questão. “Como trata-se de um crime de oportunida­de, o fato de termos uma maior incidência pela manhã, bem cedo, ou no fim do expediente pode ser por esses serem os horários nos quais há grande fluxo de trabalhado­res nas ruas”.

Procurada para explicar tal incidência de crime, a Polícia Militar informou, em nota, que “a corporação vem intensific­ando o policiamen­to preventivo e ostensivo para reduzir todos os indicadore­s de crimes praticados nas ruas, inclusive o roubo a transeunte­s”. No primeiro semestre deste ano, o registro de queda de tal modalidade criminosa foi de 7,4% em relação a 2018.

O efetivo é deslocado para as comunidade­s, desguarnec­endo o policiamen­to ostensivo ROBSON RODRIGUES, ex-chefe do Estado Maior da Polícia Militar do Rio

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FOTOS DE LUCIANO BELFORD X. trabalha à noite no Centro do Rio e evita andar com objetos de valor e dinheiro nas ruas da região
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Marcelo Torquato conta já ter sido vítima de roubo nas ruas do Centro

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