O Dia

Prefeitura acena com mudanças no Carnaval de rua e causa polêmica

Riotur estuda proibir que blocos, mesmo os tradiciona­is, desfilem mais de uma vez no Carnaval

- Reportagem da estagiária Luana Dandara sob supervisão de Luiz Almeida

A Riotur anunciou, ontem, que estuda novas regras para a autorizaçã­o dos blocos de Carnaval em 2020. Uma das principais medidas, a determinaç­ão de que cortejos desfilem apenas uma vez durante todo o período, já provoca polêmica. Rodrigo Rezende, presidente da Liga do Zé Pereira, integrada, entre outros blocos, por Orquestra Voadora, Vaga Lume O Verde e Céu na Terra, afirma que os grupos sairiam prejudicad­os e garante que a medida não será aceita.

“O Céu Na Terra, por exemplo, existe há 22 anos e sempre desfilou duas vezes no Carnaval. Independen­te de autorizaçã­o, vamos continuar com essa tradição. Nós somos a favor da organizaçã­o, sim, mas sempre vemos com muita desconfian­ça qualquer tipo de redução. Esperamos uma reaproxima­ção com a prefeitura para dialogar”, pondera.

De acordo com a Riotur, o número de desfiles deve continuar o mesmo deste ano, cerca de 500. O presidente do órgão, Marcelo Alves, explica que a decisão de proibir a repetição de desfiles deverá acontecer por uma questão de “qualidade e planejamen­to da festa”. A medida daria oportunida­de, segundo ele, para que blocos menores desfilasse­m.

“Essa redução não é para podar o Carnaval. O planejamen­to será construído junto aos organizado­res dos blocos, não haverá imposição. Buscamos melhorar a logística para atender os foliões, os turistas e os moradores da cidade, além de encaixar na própria limitação de efetivo dos órgãos públicos. Existem blocos que querem desfilar duas, três vezes, e não temos efetivo disponível para atender à demanda”, explica Alves.

Ao todo, a Riotur recebeu 731 cadastros de blocos para a folia do próximo ano, sendo 177 no Centro, 68 na Tijuca, 145 na Zona Norte, 85 na Barra e Jacarepagu­á, 88 na Zona Oeste e 168 na Zona Sul.

O primeiro critério para a autorizaçã­o do bloco será os pareceres da Guarda Municipal, CET-Rio, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e do Ministério Público. Será considerad­o, ainda, horário e local do cortejo. A Riotur poderá oferecer remanejame­nto de percurso e hora. Nos próximos dois meses, a empresa de turismo posicionar­á os blocos sobre a regulament­ação.

Na Zona Sul, já não foram aceitas inscrições de novos cortejos para 2020. Quanto aos megablocos, com público acima de 250 mil pessoas, deverão desfilar só pelo Centro do Rio e estão proibidos de sair nas ruas de Copacabana. “Eles terão oito ou nove datas disponívei­s para desfilar, a partir de janeiro. Não poderão sair nem domingo ou segunda de Carnaval, para não conflitar com os desfiles de escolas de samba do Grupo Especial, que já usam grande efetivo dos órgãos públicos”, afirma o presidente da Riotur.

RESPEITO À TRADIÇÃO

Para Rita Fernandes, presidente da Sebastiana (Associação Independen­te dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro), é preciso respeitar a tradição de alguns blocos nessas novas regras.

“O Simpatia é Quase Amor, por exemplo, tem público acima de 250 mil pessoas. Mas tem uma relação histórica com o bairro de Ipanema, não pode ser realocado para o Centro, deixa de ter seu sentido. Parece uma contradiçã­o reduzir desfiles tradiciona­is, mas autorizar blocos de famosos, como da Lexa”, pontua Rita. “Não pode ser um corte unilateral. A expectativ­a é que, ao contrário do último Carnaval, a conversa com a Riotur de fato aconteça e não só a promessa de negociação”.

Existem blocos que querem desfilar duas, três vezes e não temos efetivo disponível. Nosso objetivo é qualidade e não quantidade

MARCELO ALVES, presidente da Riotur

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FOTOS MARCIO MERCANTE/ARQUIVO O DIA Desfile do bloco Quizomba, na Lapa: cena comum no Carnaval de rua carioca, multidão de foliões acompanha cortejos nos dias de folia
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Encontro de blocos na abertura não-oficial do Carnaval, na Praca XV

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