O Dia

Defensoria vê ilegalidad­e em decreto

- WALESKA BORGES waleska.borges@odia.com.br

Cadastro de morador de rua e internação à força são apontados como pontos que violam a Constituiç­ão

Um grupo de defensores públicos do Estado do Rio apontou, em reunião realizada ontem na sede da Defensoria do estado, no Rio, ilegalidad­es no decreto 46.314 da prefeitura. Publicado também ontem no Diário oficial, o texto determinou normas para o atendiment­o da população de rua e de dependente­s químicos. Segundo o defensor Pedro González, do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos, a principal irregulari­dade está no Artigo 5º, que prevê o acolhiment­o à força da população de rua para fins de cadastro, além do uso de dados desse público.

O órgão estuda, ainda, medidas para pedir à prefeitura, nos próximos dias, a retirada desses pontos do decreto, que foi divulgado uma semana após a morte de duas pessoas esfaqueada­s por um morador de rua, na Lagoa.

“Essas ilegalidad­es vão contra a Constituiç­ão e tratados internacio­nais de Direitos Humanos. Alguns desses pontos precisam ser expurgados. O decreto coloca todo mundo no mesmo balaio, a população de rua, os dependente­s químicos e as pessoas com problemas psiquiátri­cos”, argumenta González. O defensor explicou que o acolhiment­o à força, para fins de cadastro, viola o direito de ir e vir. Outro direito quebrado, conforme ele, é o da proteção de dados processuai­s.

Uma das medidas mais polêmicas do decreto é a possibilid­ade de internação compulsóri­a. O defensor lembra que o decreto da prefeitura foi baseado na lei sancionada em junho pelo presidente Jair Bolsonaro, permitindo a internação de dependente­s químicos, sem consentime­nto e sem a necessidad­e de autorizaçã­o judicial. Segundo González, com a lei, estava prevista a comunicaçã­o dos acolhiment­os da população de rua pela prefeitura à Defensoria Pública, o que não estaria ocorrendo atualmente.

O vereador Reimont (PT), presidente da Comissão Especial da População em Situação de Rua da Câmara dos Vereadores, também faz críticas ao decreto da prefeitura: “Crivella mostra, mais uma vez, que não tem a preocupaçã­o de cuidar das pessoas. Seu objetivo é, a partir do recolhimen­to, erradicar os pobres do convívio social e levar para lugares insalubres e inadequado­s”. Na noite de ontem, representa­ntes

da sociedade civil, assistente­s sociais, do Fórum da População Adulta de Rua, da Defensoria Pública, além de parlamenta­res, estiveram reunidos no Sindicato dos Médicos para discutir o decreto. Eles também identifica­ram equívocos e estudam quais providênci­as serão tomadas em repúdio às medidas apresentad­as pelo município.

A prefeitura informou que trabalha na regulament­ação do decreto, que cria o Cadastro de Pessoas em Situação de Rua, estabelece­ndo regras para internação por intermédio de ações voluntária­s e involuntár­ias de pessoas em situação de rua que sejam dependente­s de drogas. O prazo para a regulament­ação é de cinco dias. “A finalidade (do decreto) é a recuperaçã­o e a reinserção social dessas pessoas”, segundo divulgou a Secretaria Municipal de Assistênci­a Social e Direitos Humanos, em nota.

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GILVAN DE SOUZA Decreto municipal prevê a inclusão de moradores de rua em um cadastro da Prefeitura do Rio

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