Bolsonaro sugere que as pessoas só façam cocô a cada dois dias para salvar o meio ambiente
Presidente faz piadas de gosto duvidoso para escapar de assuntos sensíveis, apontam especialistas
Em um intervalo de menos de 24 horas, o presidente Jair Bolsonaro fez duas piadas de gosto duvidoso e outras afirmações polêmicas em meio a posicionamentos sobre temas sensíveis para o país. Ao ser questionado sobre formas de conciliar preservação ambiental e crescimento econômico, ontem de manhã, no Palácio do Alvorada, em Brasília, apelou para a escatologia. “É só você deixar de comer um pouquinho. Você fala para mim em poluição ambiental. É só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também”. Em seguida, disse que a quantidade de filhos é inversamente proporcional à formação cultural dos pais.
Na quinta-feira à noite, em live na sua página no Facebook, se despediu de Sergio Moro, que falava do pacote anticrime, com uma brincadeira de conotação sexual. “Vai fazer um troca-troca com o Salles aí?”, perguntou, após o ministro da Justiça e Segurança Pública avisar que deixaria a transmissão para dar lugar a Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente. Em seguida, o presidente soltou uma gargalhada. Moro, então, deu um sorriso constrangido. E Bolsonaro tentou remendar, aos risos: “Brincadeira, Moro. Brincadeira. Troca só a cadeira”.
Para o sociólogo Ignácio Cano, professor da UERJ, Bolsonaro recorre a esse tipo de recurso para se aproximar das pessoas e se esquivar de assuntos relevantes. “O humor é um dos recursos que ele usa pra ser popular e simples. A piada é uma forma de deixar de falar de coisas mais sérias. Ele usa uma abordagem mais informal e acaba recorrendo a piadas para simplificar problemas sérios. Em parte, porque quer parecer uma pessoa acessível. Mas também faz isso porque é uma pessoa limitada”, aponta.
Professor da USP, o cientista político Glauco Peres acredita que a gravidade desse tipo de postura é atenuada pelo apoio dos seus apoiadores. “Ele fala para um grupo de seguidores cegos, que se identifica com ele e relativiza tudo. O Bolsonaro não está preocupado com a imagem que ele passa, porque isso não faz diferença”.
OUTROS EPISÓDIOS
As piadas fora do tom já se tornaram corriqueiras nas aparições públicas do presidente. Em maio, no Aeroporto Internacional de Manaus (AM), Bolsonaro debochou do tamanho do órgão sexual ao posar para foto ao lado de um homem com ascendência asiática. “Tudo pequenininho aí?”. O episódio, registrado em vídeo, viralizou nas redes sociais. No mesmo mês, em Petrolina (PE), fez uma brincadeira homofóbica ao cumprimentar o governador pernambucano. “Cadê o Paulo Câmara? Vem cá, Paulo. Me dá um abraço aqui, pô!”. Em seguida, completou, aos risos: “Um abraço hétero”.
No mês passado, ele quebrou o protocolo até em um encontro com o presidente dos Estados Unidos, durante o G20, no Japão. Ao apresentar Helio Lopes a Donald Trump com o auxílio de um tradutor, fez uma comparação que deixou até Trump constrangido, se referindo ao tom de pele do deputado, conhecido como Helio Negão. “Era melhor eu trazer o Helio ou Obama?”, questionou, se referindo ao ex-presidente Barack Obama, que também é negro.