NÃO DÁ PRA TIRAR O CORPO FORA, NÃO, GOVERNADOR
WILSON WITZEL DIZ QUE NÃO TEM CULPA PELA MORTE DE INOCENTES
Está no artigo 144 da Constituição: ‘A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio’. Para não deixar dúvida: incólume quer dizer ‘sem lesão ou ferimento; livre de dano ou perigo; são e salvo; ileso’. Isso não significa que a polícia tenha que fugir de confrontos com criminosos. Ao contrário. Combater os narcoterroristas é fundamental. Ninguém discorda que os traficantes que agem no Rio são violentos, covardes, sanguinários - e devem ser detidos. Mas a nossa PM precisa, acima de tudo, preservar a vida dos cidadãos comuns, que são vítimas desses facínoras. Encontrar um jeito de resolver essa complexa equação é obrigação de quem, como o ex-juiz Wilson Witzel, foi eleito para comandar uma força militar. E, definitivamente, culpar os outros não é a solução.
Na semana em que o Rio de Janeiro chorou com as famílias de quatro jovens inocentes, mortos em operações policiais, o governador Wilson Witzel carregou sua metralhadora e disparou seu arsenal bélico. Sobraram até balas perdidas contra as cartas das crianças do Complexo da Maré. Com olhar raivoso e veias saltadas no pescoço, o mandatário do estado escolheu seu alvo para atirar toda a culpa pelas mortes em série de inocentes: os defensores dos Direitos Humanos.
Witzel só se esqueceu, entretanto, de atribuir a ele mesmo uma boa parcela de responsabilidade. Como ex-juiz federal, parece ter ignorado a Constituição. Afinal, está escrito na Carta Magna, com todas as letras, que é dever do Estado dar segurança à população.
O artigo 144 da Constituição diz que “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Incolumidade quer dizer isento de perigo ou dano.
Ao final do lançamento da
Declaração do governador motivou reações indignadas de lideranças comunitárias
operação Segurança Presente, em Nova Iguaçu, ontem, o governador surpreendeu a população ao atacar os que militam em defesa dos Direitos Humanos: “Esses pseudodefensores de direitos humanos não querem que a polícia mate quem está de fuzil. Se não mata, quem morre são os inocentes. Os cadáveres desses jovens não estão no meu colo, estão no colo de vocês, que não deixam os policiais fazerem o trabalho que tem que ser feito”.
O governador também duvidou da autenticidade das 1.500 cartas escritas por crianças que contam a rotina de violência nas favelas. Desenhos e relatos foram reunidos pela ONG Redes da Maré, para pedir à Justiça que fosse restabelecida ação pública que restringe operações policiais. “Eu vou investigar se os desenhos foram realmente feitos por crianças ou por traficantes da região. Tive expressiva votação em comunidades que não querem mais conviver com o tráfico”, alegou Witzel.
A atitude de Witzel motivou reações indignadas, como a de Eliana Silva, diretora da Redes da Maré: “Questionar a verossimilidade dessas cartas é questionar se as pessoas que moram na favela têm direito a segurança pública”.
Para Eliana Silva, “transferir essa responsabilidade para as organizações de Direitos Humanos, que lutam pela vida, é mais uma vez, algo muito leviano. Triste o que a gente tem que ouvir de uma autoridade. Não podemos aceitar essa quantidade de violência que vem acontecendo no Rio. Quem está morrendo? Quais são os corpos que estão sendo mortos no nosso estado?”.
Em nota, a OAB-RJ afirmou que vai entrar com ação para derrubar o sigilo do manual de operações de aeronaves da polícia.
Os cadáveres desses jovens não estão no meu colo, estão no colo de vocês que não deixam os policiais fazerem o trabalho que tem que ser feito WILSON WITZEL, governador
Questionar a verossimilidade dessas cartas é questionar se as pessoas que moram na favela têm direito a Segurança Pública Eliana Silva, diretora da Redes da Maré