Dallagnol fez lobby em campanha de procurador por vaga na PGR
Segundo reportagem, coordenador da Lava Jato se articulou com o STF e com o governo
O procurador Deltan Dallagnol tirou proveito da fama obtida como coordenador da Operação Lava Jato no Paraná para se tornar uma espécie de cabo eleitoral nos bastidores da campanha de Vladimir Aras, procurador regional da República e seu aliado no Ministério Público Federal, que fazia lobby para assumir a função de novo comandante da ProcuradoriaGeral da República (PGR). A revelação foi feita em reportagem publicada ontem em parceria entre os sites The Intercept e UOL, que revelaram outras mensagens vazadas atribuídas a integrantes da força-tarefa em conversas pelo aplicativo Telegram.
De acordo com a reportagem, Dallagnol conversou com ministros do governo, senadores e pelo menos três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com os diálogos privados, Dallagnol articulou estratégias diariamente para que o procurador, que hoje atua como coordenador do Grupo de Apoio ao Tribunal do Júri Federal da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, fosse recebido por autoridades. Em alguns momentos, Dallagnol mostrou receio de que a sua interferência viesse a público. “bom ficamros (sic) na sombra”, disse, em diálogo registrado no dia 21 de fevereiro.
Os diálogos mostram que os dois começaram a articular a candidatura durante as eleições do ano passado. Após a votação expressiva de 45% de Bolsonaro no primeiro turno da disputa, os dois passaram a planejar abordagens ao então candidato. Sergio Moro, que era juiz federal na época, já era tido como alguém próximo ao grupo político de Bolsonaro, em mensagem postada no dia 11 de outubro de 2018, apenas quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial (veja ao lado).
Aras disse que já conversou com Moro sobre sua candidatura e destacou a proximidade dele com Bolsonaro. Procurada pela reportagem do UOL, a força-tarefa da Lava Jato disse que é permitido aos procuradores incentivar candidaturas de colegas, fazer contatos e “encampar iniciativas para a escolha dos melhores candidatos”. Mas voltou a falar que os integrantes da força-tarefa não reconhecem a autenticidade das mensagens.