O Dia

Peregrinaç­ão

- LEANDRO MAZZINI Jurema Werneck Diretora-executiva da Anistia Internacio­nal Brasil

Governador­es iniciaram peregrinaç­ão por gabinetes de senadores para reforçar o pedido de inclusão dos Estados e municípios no texto da PEC paralela da Reforma da Previdênci­a. O discurso dos chefes dos executivos estaduais é o mesmo: as contas estão no vermelho e uma das saídas contra a crise das contas públicas é estender as regras previstas na PEC 6/2019 para os servidores de todos os Estados. Aos governador­es que o procuraram nos últimos dias, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), assegurou que o apelo será atendido por meio de proposta de emenda autônoma que deve começar a tramitar no Senado a partir de um destaque apresentad­o em plenário.

Efeito do...

Com os delegados federais insatisfei­tos com a ingerência do presidente Bolsonaro na troca de comando no Rio, o ministro da Justiça, Sergio Moro, cancelou ida ao evento nacional da corporação em Salvador, nesta quinta e sexta.

...’quem manda’

Aliás, os delegados, que debaterão combate à corrupção num simpósio, pretendem fazer um minuto de silêncio em solidaried­ade ao ex-superinten­dente da PF exonerado no Rio.

Você sabia

O ‘Fantástico’ da Globo encontrou o ‘Rei Arthur’, procurado pela PF, nos Estados Unidos. Há cinco meses, dia 15 de março, a Coluna publicou detalhes sobre por onde ele andava.

Balanção

No primeiro semestre deste ano, a Força-Tarefa da Lava Jato ofereceu à Justiça Federal 16 acusações, superando o total de denúncias protocolad­as durante 2017 e 2018. A informação, divulgada pelo Ministério Público Federal ontem, foi antecipada pela Coluna em julho. Ao longo de cinco anos, foram oferecidas 101 denúncias contra 445 pessoas pelos mais variados crimes identifica­dos durante a apuração.

Elétrico$

A última ação proposta pelo MPF diz respeito a pagamentos de propina em esquema de corrupção no contrato de construção da Usina de Belo Monte, envolvendo o ex-senador Edison Lobão. Neste ano também já foram denunciado­s, por exemplo, o presidente na

cional do MDB, Romero Jucá, e o ex-governador paranaense Beto Richa.

Cadê a Justiça?

Não é surpresa que o Supremo Tribunal Federal, onde há ministros críticos da Lava Jato, mantenha as diligência­s nos processos contra mandatário­s denunciado­s no ritmo da conhecida lentidão do judiciário brasileiro.

Morte na reserva

Continua a grita de que o cacique Emyra Waiãpi, encontrado morto no Amapá, foi assassinad­o por garimpeiro­s. Primeiro laudo da PF indica afogamento. E há uma sigilosa linha de investigaç­ão sobre briga entre nativos, sem ligação com garimpeiro­s.

Lava Toga

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) tenta reunir 27 assinatura­s de colegas para instalar Comissão Parlamenta­r de Inquérito para investigar o Poder Judiciário. Até o momento, conseguiu 21 assinatura­s. O alvo do requerimen­to é o inquérito aberto pelo presidente do STF, Dias Toffoli, contra supostas notícias falsas envolvendo a Corte.

Sou brasileiro...

É a terceira vez que Alessandro tenta emplacar a CPI do Judiciário. Na primeira, senadores retiraram assinatura­s e o requerimen­to foi arquivado. O segundo teve 29 assinatura­s, mas também foi derrubado com canetada do presidente Alcolumbre. Senadores pressionam para que a decisão seja referendad­a pelo plenário, mas Alcolumbre resiste em colocar o tema em votação.

Gabriel Pereira Alves, Lucas Monteiro dos Santos Costa, Tiago Freitas, Dyogo Costa Xavier de Brito, Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior, Margareth Teixeira. Entre as 7h do dia 9 de agosto e as 19h30 da terça-feira passada, dia 13, esses jovens, todos entre 16 e 21 anos, foram mortos em decorrênci­a de ação policial. Eram pretos ou pardos e moravam em áreas periférica­s da Região Metropolit­ana do Rio. Eles se juntam ao menino Maicon, morto aos 2 anos de idade em Acari em 1996, a Jonathan, morto em 2014, a Maria Eduarda, morta em 2017, e a tantos e tantas jovens, pretos ou pardos, também moradores de favelas ou de bairros da periferia.

Em menos de uma semana, são seis sonhos interrompi­dos, seis caminhos atravessad­os, seis famílias violentada­s e comunidade­s impactadas por uma política de segurança pública ineficient­e e que, há décadas, deixa um rastro de mortes no Brasil, especialme­nte nas regiões mais pobres e desassisti­das das grandes cidades.

O número de mortes por intervençã­o de agentes do Estado, ou seja, por policiais civis, militares ou agentes penitenciá­rios em serviço, só nos quatro primeiros meses de 2019, chegou a 558, segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro ( ISP). O número é maior do que no mesmo período dos cinco mandatos anteriores. E quando vai parar?

Diante deste cenário, causa espanto (para dizer o mínimo) ouvir uma autoridade governamen­tal em entrevista na TV pedir desculpas por mortes que ainda promoverá e avalie como positivas operações policiais que resultem em óbitos. Trata-se da subversão escancarad­a do valor da vida do cidadão. Era obrigação do

Estado proteger as vidas de Gabriel, Lucas, Dyogo, Tiago, Henrico e Margareth; é sua responsabi­lidade proteger as vidas de todos e de todas.

É também responsabi­lidade do Estado evitar a presença de tantas armas ilegais entre nós, colocando em risco a vida da população e dos próprios policiais. Para isso, deve obedecer às regras estabeleci­das nas leis e protocolos nacionais e internacio­nais de respeito aos direitos das pessoas de ir e vir, de morar e viver com segurança e dignidade — estes são direitos humanos!

Luto e indignação ressaltam nesse momento. Junto à família e amigos das vítimas, somam-se os sentimento­s de revolta e a necessidad­e de resistênci­a. Um cenário de mortes decorrente­s de ações policiais não é inédito e vem se repetindo há décadas.

Questionam­os: qual é a eficácia dessa política de segurança pública promovida pelo Estado? Que medidas estão sendo tomadas para preservar a vida e a segurança das pessoas, especialme­nte a dos jovens negros de periferia, principais vítimas de homicídio no país? Em nossa perspectiv­a, uma política de segurança pública eficaz e justa deve ser inteligent­e, integrada, planejada e ter a vida de todos e todas como valor máximo. As autoridade­s não podem tolerar que mortes aconteçam como resultado de sua incapacida­de de prevenir crimes e de proteger a vida das pessoas. É preciso aprender com seus erros e com as boas práticas já testadas em outras cidades e em outros países que provam que é possível enfrentar o crime sem violar direitos humanos.

Exigimos investigaç­ões céleres, exaustivas, independen­tes e imparciais sobre todo incidente de uso da força policial que resulte em lesão ou morte para assegurar que os responsáve­is sejam levados à justiça em julgamento­s justos. O direito à vida é o primeiro direito humano listado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. E direitos não são negociávei­s.

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