O Dia

Para estudiosos, sequestrad­or desejava morrer

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O sequestrad­or Willian Augusto da Silva pode ter buscado a morte. Após o desfecho do caso, a major Fabiana Silva, secretária estadual de Vitimizaçã­o e Pessoas com Deficiênci­a, disse em entrevista que a vontade do rapaz havia sido comunicada por Willian à mãe: “Ele queria morrer pela mão (a major não termina a frase), ele queria alcançar o resultado morte. Inclusive, ele prometeu isso à mãe”.

A declaração da major é reforçada pelo sociólogo Ignácio Cano, do Laboratóri­o de Análise da Violência da Uerj. Ele acredita que o sequestrad­or pode ter desejado esse desfecho: “Há outros casos na literatura em que a pessoa usa a polícia para cometer suicídio. Se os fatos se confirmare­m, que ele usou uma arma de brinquedo, parou o ônibus na ponte onde não era possível fugir e ainda ficou se expondo, pode ser que ele tenha buscado esse desfecho”, avaliou.

Em sua mochila, Willian levava o livro “O Capitão saiu para almoçar e os marinheiro­s tomaram conta do navio”, do escritor alemão Charles Bukowski. Ele mencionou o livro para os negociador­es do Bope. Um trecho do livro diz: “Nunca dirijo meu carro por cima de uma ponte sem pensar em suicídio. Quero dizer, não fico pensando nisso. Mas passa pela minha cabeça: suicídio”.

Para o psiquiatra forense Guido Palomba, o comportame­nto de Willian Augusto da Silva demonstra que ele havia feito “uma ruptura com a realidade” e que há indicações de que ele sofria de uma doença mental. “Ele tinha uma doença mental, a loucura. Poderia mesmo até ter colocado fogo no ônibus. Não há um diagnóstic­o específico, mas pode ser uma esquizofre­nia latente. Ele estava alucinando e delirando. Provavelme­nte, tinha um histórico de problema mental”, avaliou.

Para o especialis­ta em gerenciame­nto de risco Carlos Camargo, formado pelo Conselho Britânico de Segurança, a atuação do atirador de elite da PM foi correta. Ele acredita que, ao contrário do sequestro do ônibus 174, nesse caso da Ponte RioNiterói, não houve interferên­cia política na cadeia de comando: “Foi uma decisão técnica. Era uma situação extrema, que não havia outra forma de atuação”, explicou. O especialis­ta lembrou ainda que o sniper atuou de uma plataforma fixa mirando em um alvo móvel, o que não ocorre quando os tiros são disparados de uma aeronave.

Os especialis­tas lembraram que os tiros de precisão dados no sequestrad­or não têm relação com os casos de balas perdidas, disparados por helicópter­os sobre as favelas: “A única situação em que se justifica um tiro letal é essa (risco de vida dos reféns). O que é muito diferente dos tiros disparados pelos tripulante­s dos helicópter­os, iniciados por eles, em direção das favelas”, explicou Cano.

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